sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Das Homilias de Santo Agostinho


«Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja.» Este nome, Pedro, foi-lhe dado porque ele foi o primeiro a criar, entre as nações, os fundamentos da fé, e porque ele é a rocha indestrutível sobre a qual assentam os pilares e o conjunto do edifício de Jesus Cristo.



Foi pela sua fidelidade que lhe chamaram pedra, enquanto o Senhor recebe este mesmo nome pelo Seu poder, segundo a palavra de São Paulo: «Eles bebiam a água da pedra espiritual que os seguia, e esta Pedra é Jesus Cristo» (1Cor 10,4).



Sim, ele merecia partilhar o nome com Jesus Cristo, pois foi o apóstolo escolhido para ser o colaborador da Sua obra. Em conjunto, construíram o mesmo edifício. É Pedro quem planta, é o Senhor que dá o crescimento, é o Senhor que envia aqueles que deverão regar (cf 1Cor 3,6ss.).



Vós sabeis, irmãos muito amados, que foi a partir das suas próprias faltas, no momento em que o seu Salvador sofria, que o bem-aventurado Pedro foi educado. Foi depois de ter negado o Senhor que ele se tornou o primeiro perante Ele. Ao tornar-se mais fiel por chorar sobre a fé que tinha traído, recebeu uma graça ainda maior do que aquela que tinha perdido. Cristo confiou-lhe o Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele que tinha sido tão fraco, tornou-se então o apoio de todos. Ele que, interrogado na sua fé, tinha sucumbido, precisava confirmar os outros no fundamento inabalável da fé. E por isso que é chamado a pedra fundamental da piedade das Igrejas.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quaresma


Nesta quarta feira de cinzas a Igreja entra em seu retiro anual. Segue os passos de seu Mestre e se prepara para o grande evento pascal. Deus neste tempo se faz mais propício a nos ouvir, nos acolher e abrir a conversão.

É tempo de jejum para nos educar no auto controle, pois as nossas paixões clamam em nossas carnes e nos convida constantemente ao pecado. Tempo de silêncio exterior para experienciar melhor o interior e deixar Deus nos falar. Tempo de meditar na Palavra de Deus, terreno fértil de onde brota aquilo que devemos fazer como cristãos. Tempo de participar com mais frequência dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia: cura para nossa alma e alimento para nosso ser. Tempo principalmente de encontrar Jesus nos nossos irmãos mais necessitados e praticar atos de caridade para com o próximo.

Deus está aqui bem perto e se deixa tocar por nós, cabe agora a cada um deixar-se ser tocado por Deus e se abrir a nosso coração a conversão de que necessitamos.

Uma Santa Quaresma a todos.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Santa Tereza D'Àvila


AS MORADAS DE SANTA TERESA DE JESUS
O CASTELO INTERIOR


A Obra: O Castelo interior é o ensinamento maior de Santa Teresa. Fruto maduro de sua última jornada terrena, onde reflete o estádio definitivo de sua evolução espiritual e completa a mensagem das obras anteriores, Vida e Caminho. Foi escrito em 1577, aos 62 anos de idade, cinco anos antes de morrer.

Foi escrito por mandato do padre Gracián: “escreva outro livro e diga a doutrina comum, sem nomear a quem sucedeu o que ali disser”. Teresa contestou: “Para que querem que eu escreva? Escrevam os letrados, que estudaram. Sou uma tonta e não sabereis o que falar: trocarei uma palavra por outra e com isso causarei dano. Já se escreveram muitos livros sobre coisas de oração. Pelo amor de Deus, deixem-me fiar em minha roca e seguir meu coro e meus ofícios de religião, como as outras irmãs. Não sirvo para escrever, não tenho saúde nem cabeça para isso...”. O livro da Vida estava nas mãos da Inquisição.

Finalidade: Foi escrito para suas monjas do Carmelo, gente simples.

O tema: das Moradas é a oração em profundidade: o mistério do homem, com sua alma capaz de ver Deus, e o mistério da comunicação com a divindade que nele habita. Em outras palavras: as fases da vida cristã e pleno desenvolvimento da santidade.

Carateristicas da obra:

Parte sempre do dado empírico, porque sua fonte é a experiência.
Assimila o dado bíblico em textos incorporados a sua experiência.
Mestra na arte das comparações e na elaboração dos símbolos.
Três recursos serviram para organizar e estruturar o Castelo:
Um substrato de material autobiográfico: completa seu livro “A Vida”, mas mudando de método, dando-nos uma lição de vida espiritual.
Uma série de referencias escriturísticas e figuras bíblicas que incorpora a seu mundo interior.
Uma trama de símbolos: quatro símbolos maiores (o castelo, as duas fontes, o bicho-da-seda e o símbolo nupcial). Símbolo antropológico, o castelo. Símbolo tomado da natureza, as fontes. Símbolo de matiz biológico, o de bicho-de-seda. Sociológico, o símbolo nupcial.
Sentido mistagógico e pedagógico: ensina e introduz até a luz e o amor de Deus. Parte de pressupostos simples:
Um ponto de partida, presença de Deus no homem; um ponto de chegada, união com Deus, quintessência da santidade.
Um caminho a percorrer: oração como atuação da vida teologal, núcleo da vida cristã.
O motor no caminho é o amor: e o amor é determinação e obras, mais que sentimentos e emoção.
Fala do processo de vida espiritual em dois tempos:
Ascético: a luta ascética, cujo protagonista é o homem, estende-se ao longo das moradas I-II-III.
Místico: protagonizada por Deus, nas moradas V-VI-VII.


Sumário das sete moradas: a meta de todo o processo é Cristo

Primeira morada: entrar no castelo, converter-se, iniciar o trato com Deus (oração), conhecer-se a si mesmo e recuperar a sensibilidade espiritual.

Segunda morada: lutar; o pecado ainda cerca; persistem os dinamismos desordenados; necessidade de ancorar-se numa opção radical; progressiva sensibilidade na escuta da palavra de Deus (oração meditativa).

Terceira morada: a prova do amor. Estabelecimento de um programa de vida espiritual e de oração; manter-se nele; surgimento do zelo apostólico; mas sobrevêm a aridez e a impotência como estados de prova.

Quarta morada: brota a fonte interior, passagem à experiência mística; mas a sorvos, intermitentemente: momentos de lucidez infusa (recolhimento da mente) e de amor místico-passivo (quietude da vontade).

Quinta morada: morre o bicho-da-seda; a alma renasce em Cristo, estado de união por conformidade de vontades, manifestada especialmente no amor ao próximo.

Sexta morada: o crisol do amor. Período extático e tensão escatológica. Novo modo de sentir os pecados. Cristo presente. Esponsal místico.

Sétima morada: matrimônio místico. Duas graças de ingresso no estado final: uma cristológica, outra trinitária. Plena inserção na ação. Plena configuração a Cristo crucificado.