sábado, 6 de fevereiro de 2010
Santa Tereza D'Àvila
AS MORADAS DE SANTA TERESA DE JESUS
O CASTELO INTERIOR
A Obra: O Castelo interior é o ensinamento maior de Santa Teresa. Fruto maduro de sua última jornada terrena, onde reflete o estádio definitivo de sua evolução espiritual e completa a mensagem das obras anteriores, Vida e Caminho. Foi escrito em 1577, aos 62 anos de idade, cinco anos antes de morrer.
Foi escrito por mandato do padre Gracián: “escreva outro livro e diga a doutrina comum, sem nomear a quem sucedeu o que ali disser”. Teresa contestou: “Para que querem que eu escreva? Escrevam os letrados, que estudaram. Sou uma tonta e não sabereis o que falar: trocarei uma palavra por outra e com isso causarei dano. Já se escreveram muitos livros sobre coisas de oração. Pelo amor de Deus, deixem-me fiar em minha roca e seguir meu coro e meus ofícios de religião, como as outras irmãs. Não sirvo para escrever, não tenho saúde nem cabeça para isso...”. O livro da Vida estava nas mãos da Inquisição.
Finalidade: Foi escrito para suas monjas do Carmelo, gente simples.
O tema: das Moradas é a oração em profundidade: o mistério do homem, com sua alma capaz de ver Deus, e o mistério da comunicação com a divindade que nele habita. Em outras palavras: as fases da vida cristã e pleno desenvolvimento da santidade.
Carateristicas da obra:
Parte sempre do dado empírico, porque sua fonte é a experiência.
Assimila o dado bíblico em textos incorporados a sua experiência.
Mestra na arte das comparações e na elaboração dos símbolos.
Três recursos serviram para organizar e estruturar o Castelo:
Um substrato de material autobiográfico: completa seu livro “A Vida”, mas mudando de método, dando-nos uma lição de vida espiritual.
Uma série de referencias escriturísticas e figuras bíblicas que incorpora a seu mundo interior.
Uma trama de símbolos: quatro símbolos maiores (o castelo, as duas fontes, o bicho-da-seda e o símbolo nupcial). Símbolo antropológico, o castelo. Símbolo tomado da natureza, as fontes. Símbolo de matiz biológico, o de bicho-de-seda. Sociológico, o símbolo nupcial.
Sentido mistagógico e pedagógico: ensina e introduz até a luz e o amor de Deus. Parte de pressupostos simples:
Um ponto de partida, presença de Deus no homem; um ponto de chegada, união com Deus, quintessência da santidade.
Um caminho a percorrer: oração como atuação da vida teologal, núcleo da vida cristã.
O motor no caminho é o amor: e o amor é determinação e obras, mais que sentimentos e emoção.
Fala do processo de vida espiritual em dois tempos:
Ascético: a luta ascética, cujo protagonista é o homem, estende-se ao longo das moradas I-II-III.
Místico: protagonizada por Deus, nas moradas V-VI-VII.
Sumário das sete moradas: a meta de todo o processo é Cristo
Primeira morada: entrar no castelo, converter-se, iniciar o trato com Deus (oração), conhecer-se a si mesmo e recuperar a sensibilidade espiritual.
Segunda morada: lutar; o pecado ainda cerca; persistem os dinamismos desordenados; necessidade de ancorar-se numa opção radical; progressiva sensibilidade na escuta da palavra de Deus (oração meditativa).
Terceira morada: a prova do amor. Estabelecimento de um programa de vida espiritual e de oração; manter-se nele; surgimento do zelo apostólico; mas sobrevêm a aridez e a impotência como estados de prova.
Quarta morada: brota a fonte interior, passagem à experiência mística; mas a sorvos, intermitentemente: momentos de lucidez infusa (recolhimento da mente) e de amor místico-passivo (quietude da vontade).
Quinta morada: morre o bicho-da-seda; a alma renasce em Cristo, estado de união por conformidade de vontades, manifestada especialmente no amor ao próximo.
Sexta morada: o crisol do amor. Período extático e tensão escatológica. Novo modo de sentir os pecados. Cristo presente. Esponsal místico.
Sétima morada: matrimônio místico. Duas graças de ingresso no estado final: uma cristológica, outra trinitária. Plena inserção na ação. Plena configuração a Cristo crucificado.
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