segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tempo...


O decorrer dos fatos chamamos tempo.
Cronológico e Psicológico...
O primeiro é permanente, objetivo...
O segundo é mutavél e subjetivo...
Avaliar o que fizemos é sempre interessante, pois nos estabelece metas a cumprir.
O tempo tomou outro significado com o evento que celebramos no dia 25 de dezembro. O tempo foi santificado, pois aquilo que Deus assume Ele santifica.
Nossa história, na roda do tempo também precisa ser santificada e isso só é possível com Cristo. Viver em Cristo é santificar meu tempo.
2009 e depois 2010, o tempo continuará a correr e nos restará a certeza de que com cristo tudo será diferente.
Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal do Senhor



A Teologia da
celebração do NATAL
A realidade celebrada na solenidade do Natal, “a vinda” do Filho de Deus na carne, embora deva ser considerada na totalidade do mistério de Cristo, presente sacramentalmente na Igreja, concretiza-se expressamente no nascimento de Jesus através de Maria e nos acontecimentos da sua infância, estamos diante da celebração comemorativa do nascimento do Senhor, da memória do acontecimento histórico, que se deu no tempo de César Augusto (cf. Lc 2,1-3). A celebração, porém, não pára no fato histórico, mas dele vai ao seu verdadeiro fundamento, o mistério da encarnação, mistério de salvação.
Natal não é a festa de uma idéia, ou do dogma, mas é a festa que celebra e participa do evento da nossa salvação, ato sagrado no qual e pelo qual é atualizada a obra salvífica de Deus.
A verdadeira espiritualidade do Natal não consiste na imitação de Cristo “do lado de fora”, mas “viver Cristo que está em nós” e manifestá-lo com a vida no seu mistério de virgindade, obediência, pobreza e humildade.
A graça própria da celebração do Natal é a da nossa adoção divina. Passamos da condição de “homem velho” para a condição de “filhos de Deus”. “O novo nascimento do vosso Filho em nossa carne mortal nos liberta da antiga escravidão, que nos mantém sob o jugo do pecado”.
O mistério do Natal não nos oferece somente um modelo para imitar a humildade e pobreza do Senhor que está deitado na manjedoura, mas nos dá a graça de sermos semelhantes a ele.
Atitude básica do cristão:
Debruçar-nos sobre as leituras bíblicas. Elas nos narram o fato da Encarnação. Inclinar-se sobre o Recém-nascido e, n’Ele, sobre a vida que nasce. A grande nova é esta: “NASCEU-NOS UM MENINO”. Esta criança que está nascendo precisa de cuidado, precisa de um lugar, onde possa ser reclinada. Em cada um de nós está presente esta criança nascendo. Preparemos-lhe um lugar aconchegante. N’Ele, o Menino, a vida de cada criança, de cada pessoa humana é valorizada. Paz na terra aos homens por Ele amados.

O contexto sócio-cultural, com seus apelos para um “natal mágico”, consumista e turístico, aproveita uma forte tradição religiosa para transformar a festa cristã em festa pagã.
A ação pastoral deve dirigir-se em duas direções:
• Uma ação junto aos praticantes que, através do Advento, devem preparar-se para uma celebração consciente do mistério;
• Uma ação junto aos “afastados”, aos “não praticantes”, junto àqueles que “estão presentes somente na missa da meia-noite ou do dia de Natal”, para transmitir-lhes, mediante o testemunho da comunidade fiel, a mensagem do nascimento do Senhor: “Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lucas 2,10-11).
• A ação pastoral junto à comunidade fiel e praticante deve ser forte e empenhativa; essa comunidade é chamada a renovar a sua credibilidade, colocando-se como sinal do Cristo pobre, empenhando-se no testemunho e ação missionária.
• As iniciativas natalinas (presépio, árvore de Natal, caridade para com os pobres, solidariedade, reconciliação, paz etc.) devem ser inspiradas por uma forte carga evangelizadora por parte da comunidade fiel.
A celebração do Natal será pensada de modo a colocar-se como um grande sinal para todos; indiferentes, não praticantes, não crentes.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Formação Teológica


A GRAÇA ATUAL

Realizar uma abordagem sobre a Graça atual requer, primeiramente, a compreensão do que seja a Graça divina. Por isso, entendemos por Graça “o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos participantes da natureza divina, da Vida Eterna” . Posto tal base, agora podemos dar mais um passo em nosso tema, fazendo apenas a distinção da Graça santificante e da Graça atual.
A Graça Santificante é um hábito (disposição permanente) existente no homem, desde o dia do Batismo, no qual ele foi configurado a Cristo e recebeu a filiação divina, tornou-se participante da natureza divina “divinae consortes naturae” (2Pd 1,4).
Para melhor compreendermos o assunto, vamos analisar algumas questões que giram em torno da nossa temática: o que é a graça atual? Qual o seu fundamento Bíblico? A graça atual é necessária? Quais os meios para alcançarmos esta graça?
Segundo Adolfh Tanquerey, em sua obra “A Vida Espiritual”, a graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais .
Com outras palavras, podemos dizer que a graça atual são auxílios divinos doados em todos os momentos, de nossa vida cotidiana, em que necessitamos agir e realizar ações boas e atos sobrenaturais, em conformidade com o bem supremo, de acordo com a vontade de Deus.
A doutrina da graça atual está fundamentada em toda a Sagrada Escritura, mas principalmente no Novo Testamento, quando este nos mostra claramente e nos ensina que os atos bons realizados pelos homens têm uma estreita ligação e dependem especialmente da moção interior de Deus.
A Sagrada Escritura para demonstrar o impulso de Deus no homem para que ele possa praticar o bem, utiliza-se de várias imagens da ação divina: a) Deus que abre o coração do homem: At 16,14; Lc 24,32.45; b) Deus que visita: Lc 7, 16; 19, 44. A visita é um encontro com Deus, que traz salvação a ser acolhida com fé ; c) Imagem da iluminação da mente ou do coração: Ef 1,18; 2Cor 4,6; Jo 1,9; d) O Senhor que ensina no íntimo do coração: Jo 6,45; 14,26; e) Textos que falam de chamado, convite de Deus ao homem: Mt 2,17; 23,37; Gl 1,15; 2Tm 1,9; f) A atração divina: Jo 6,44; 12,32; g) Jesus que afirma “Sem mim nada podeis fazer”: Jo 15,5.
Estes textos bíblicos nos mostram vários aspectos da ação interior da graça que move o homem a agir diretamente ao bem. E também, mostram significativamente que todos os homens, quer seja cristão pelo batismo, portador da graça santificante, quer sejam “pagãos” necessitam do auxilio (auxilium, adiutorium) de Deus para realizar obras de acordo com o bem. Pois, sem a ajuda divina é totalmente impossível que o homem consiga realizar o bem e evitar o mal. A este auxílio, frisa Bettencourt, é dito “graça atual”, porque é dado em vista de tal ato bom .
Na doutrina dos Santos Padres da Igreja e nas diversas definições sobre a Graça, apesar de não utilizarem a expressão “graça atual” inicialmente, mas já está explicito o conceito e a afirmação da necessidade da graça.
Mediante a ação do Espírito Santo, no batismo, o cristão obtém a Graça habitual, a justificação. No entanto, existem atos precedentes que são realizados mediante os auxílios, ou seja, as graças atuais. Assim, podemos constatar que estas “no justo hão de ser vistas como o desenvolvimento, a floração e a irradiação da graça habitual; no pecador, como a concreta plasmação da vontade salvífica divina, que toca o interior do homem e o predispõe à conversão” .
De modo explicito o caráter de necessidade das graças atuais, está expresso nos diversos artigos do decreto sobre a Justificação, do Concilio de Trento, na 6ª sessão (13.01.1547). Vejamo-las: 1) É necessária a graça preveniente de Deus para a preparação à justificação e para iniciar o movimento até Deus (DS 1525s; 1553s); 2) Deus ajuda para que seja possível a observância dos mandamentos (DS 1536); 3) Deus inicia a obra boa e a leva ao término, sem a graça não se pode perseverar na justiça (DS 1541; 1572); 4) A força da graça sempre precede, acompanha e segue a obra boa (DS 1546).
Além deste esquema do Concilio de Trento podemos sintetizar em 3 pontos a necessidade da Graça atual na vida do ser humano perante as duas realidades, tanto de pecador como de justificado. Ela é necessária: a) porque a criatura jamais pode ser independente do Criador. A criatura necessita dos auxílios divinos para executar suas tarefas mais fundamentais, pois sem ele não pode atingir a plena realização; b) ao homem pecador, em conseqüência do pecado original e dos próprios pecados pessoais, pois traz dentro de si a concupiscência. Neste caso a graça vem como auxilio curativo, sanante (gratia sanans); c) ao homem pecador, que é eleito para que contemple a Deus face-a-face. No entanto, isso só é possível mediante um auxilio sobrenatural, uma elevação da natureza humana para participar de tal dignidade (gratia elevans).
Dentro da necessidade da graça entra o problema da liberdade humana. As definições do magistério da Igreja nos atestam que a graça não anula a liberdade, mas a fortifica e inclusive a faz possível. Para nós é importante compreender que “a ação de Deus e a ação do homem não se podem colocar no mesmo plano como concorrentes, mas que Deus possibilita e sustenta nossa ação livre” . Entretanto, é visível em nosso agir que a liberdade pode resistir a ação da Graça (livre-arbítrio) e assim fechar-se a ação de Deus. Contudo, Deus sempre quer salvar a todos os homens e a graça divina não deixa de ser tal como é porque nós resistimos a ela.
Os principais meios para a obtenção da graça são: a oração e os sacramentos, em especial a Sagrada Comunhão. Também os sacramentos do Batismo (dá a graça santificante) e da Penitência (restitui a graça santificante perdida com o pecado mortal), por sua vez os outros sacramentos aumentam a graça naqueles já em estado de graça.
Além destes meios, podemos receber graças atuais através: 1) Das boas ações: tais como oferecimento de ações, sacrifícios pela Igreja, oferecimento da Missa, escuta atenta da palavra de Deus. As boas ações são necessárias, pois Deus não nos salvará sem a nossa cooperação; 2) Existem outros meios além das boas ações: pregações, lendo bons livros, doença e morte de um conhecido, conselho dos superiores e amigos, bom exemplo ...
Perante estes fatos temos na História da Igreja vários exemplos de pessoas que foram convertidas por meio das graças atuais doadas por Deus num determinado momento de suas vidas: os primeiros convertidos no Pentecostes foram movidos pela pregação dos Apóstolos; Sto. Inácio de Loyola foi movido pela leitura de vidas de santos; S. Francisco de Assis, durante uma doença; S. Francisco Borja olhando o corpo falecido da Rainha Isabel.
Portanto, Deus está sempre derramando as graças atuais sobre todos os homens para que movidos e iluminados possam agir conscientemente e por meio dos atos sobrenaturais e bons glorifiquem a Ele, supremo Bem, e santifiquem a si e a humanidade inteira.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Para refletir...


Descobri em meu viver que ele me ama assim como sou,
E zela por mim, bem mais que a mim mesmo.
O teu jeito de amar livrou-me da morte,
E nada exige de mim, mas mesmo assim me entrego a Ele em adoração.
Deu-me mais chances que eu merecia,
Mais graças que clamei.
Enxergou-me além das aparências,
Fez-me forte em meio às fraquezas.
Não há portas fechadas que meu Deus não possa abrir,
E nem barreiras tão altas que Ele não possa saltar.
O meu Deus é o Senhor dos milagres,
E o milagre em minha vida já determinou.
Eu sei não sou digno de habitar em tua casa,
Mas algo dentro em mim me diz aqui é o meu lugar.
Perdoe-me as palavras regadas por lágrimas
Causadas por um Deus que esqueceu minha condição e tocou meu coração.

Música composta por Sidney Alves da Paróquia Santa Luzia da Diocese de Campo Limpo-SP

Justificação pela Fé


Sabemos que ao longo dos dois primeiros capítulos da Carta aos Romanos, Paulo apresenta os pressupostos de sua tese de justificação que é o fato de tanto os gentios como os judeus, abstraída a redenção operada por Cristo, serem objetos da ira divina. Ele o faz mostrando que tanto uns como outros foram incapazes de seguir a lei dada por Deus, quer os judeus à lei explicita e positiva, quer os gentios à lei natural cognoscível pelo uso da razão.
Ele insiste ainda em depreciar essa lei dado que só pode dar o conhecimento do que deve ser feito e do que deve ser evitado, não capacitando para tal, o que complica mais ainda a situação do homem.
Ao longo do capitulo terceiro ele passa a apresentar então como se dá a Justificação dos Homens da parte de Deus mediante a fé. Ademais de todos serem culpados, de todos terem pecado , a justificação se dá gratuitamente (por iniciativa libérrima de Deus) por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se dá independentemente da Lei, embora não em contraposição a essa, como erroneamente foi interpretado por alguns de seus contemporâneos, considerando-o assim como um anarquista ou um anomista. O que evidencia a não contraposição a lei, é o fato de essa mesma lei (e quando dizemos lei temos em mente o Pentateuco e os Profetas) ter se considerado como insuficiente para a justificação do homem, de modo que apontou para um futuro em que outro o faria em seu lugar. Quando Paulo fala sobre a manifestação da justiça divina testemunhada pela lei e os profetas podemos lembrar de passagens encontradas como as de Ezequiel e Jeremias que falam sobre a Nova Aliança, sobre uma transformação do pecador, tirando um coração de pedra e concedendo-lhe um coração de carne .
A justificação se dá para todos igualmente, gratuitamente (dado que todos pecaram) e isso se dá em virtude da redenção realizada por Cristo Jesus, quando Deus o pôs em nosso meio como instrumento de propiciação . É interessante notarmos a relação que Paulo faz entre esse “instrumento de propiciação” e o “tempo da paciência de Deus” . O propiciatório era a chapa de ouro posta sob a arca da aliança sob o qual era aspergido o sangue do sacrifício expiatório anual almejando o perdão dos pecados de todo o povo de Israel . Era um sacrifício ineficaz, conforme pode ser confirmado em toda a Carta aos Hebreus, e por isso precisava ser repetido anualmente. Deus “suportou pacientemente” todos esses sacrifícios porque tinha os olhos postos neste Verdadeiro Propiciatório (o Corpo de seu próprio Filho) do qual os demais eram meras sombras, e que seria o sangue de seu Filho que redimiria eficaz e verdadeiramente todos os pecados de todos os pecadores de todos os tempos.
A critica ferrenha de Paulo a uma justificação pelas obras da lei está no fato de isso restringir Deus apenas a um Deus dos judeus, que seriam salvos pelos méritos de sua própria ação, de modo que a salvação não seria GRAÇA, mas RETRIBUIÇÃO DEVIDA os esforços por eles realizados em sua própria justificação (doutrina esta presente em nossa história cognominada por pelagianismo).
Deus justifica a todos pela fé em seu filho Jesus (e não uma fé “abstrata” em uma divindade qualquer, ou mesmo no Deus único dos israelitas). Essa fé deve ser compreendida da seguinte maneira: o homem tenta, por meio de suas forças, não só uma, mas várias vezes, alcançar a justificação, o perdão de seus pecados. Por tantas vezes quanto tentar por si só, será o número de vezes que certamente falhará. A fé em Jesus consiste então em que este homem se aproxime humildemente de Deus e lhe implore que, mediante os méritos alcançados pelo seu Filho na sua morte e ressurreição, ele possa dar-lhe o Espírito de seu Filho, que diferente da lei, não só dará o conhecimento do que deve ser feito e evitado, mas operará uma transformação real no ser, que CAPACITARÁ o homem à fazer aquilo que é da vontade de Deus, ou seja, realizará uma aproximação das vontades (humana e divina). Isso feito, faz desnecessária a lei, que era outrora externa ao homem, uma coação externa, que passa a ser agora internalizada. O homem a vê agora como sua própria vontade, e não precisa mais ser obrigado a faze-la, ou faze-la de mau grado, pois passa a ser sua própria vontade. Isso só é possível pela transformação operada no cristão pela presença do Espírito de Jesus que realiza no homem todas as promessas feitas à humanidade até então, de modo especial, a encontrada no profeta Ezequiel: coração novo, lei escrita no coração, e não em tábuas de pedra .
É essa fé em Jesus Cristo (adesão total à sua pessoa e recepção, por meio dele, do Espírito Santo) que justifica gratuitamente o cristão. Mas essa fé não implica uma passividade por parte do pecador, ou a exclusão de operatividade. Exclui sim, qualquer prática que presunçosamente busque a auto-justificaçao. Implica sim, em contrapartida, uma operatividade explicitada no amor . Trata-se de uma resposta de amor (adesão) a uma pessoa que agiu exclusivamente por amor, dando sua própria vida por nós. Nenhuma obra anterior à essa justificação poderia ser meritória ou proporcional a tamanho dom divino. Qualquer obra seria totalmente desproporcional à graça recebida do perdão dos pecados, da filiação divina e participação da natureza divina. A partir desse momento, todas as obras do homem realizadas são meritórias, mas não por ele mesmo, mas mais pelo fato de estar agora unido a Deus, de modo que seu atuar passa a ser um atuar de Cristo nele, ao ponto do cristão poder dizer “não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim .
Não podemos deixar de ver todo essa transformação operada pela ação do Espírito Santo a que chamamos Justificação como o início de um processo que já estava na pré-ciência de Deus e no qual o cristão deve esforçar-se por corresponder ao amor de Deus manifestado por ele em Cristo Jesus. Sabemos que a atuação dessa graça em nós realizada no momento do batismo fez do pecado que habitava em nosso ser como que um cadáver em nosso interior... Mas graças à liberdade por Deus concedida ao homem, este é capaz de fazer com que esse cadáver recupere a vida, e volte a dominá-lo como a um escravo , daí a necessidade de dar continuidade ao progresso dessa nova vida que foi-lhe dada, almejando conformar-se sempre mais à imagem de Cristo pois para isso fomos predestinados, dado que ele é o primogênito de muitos irmãos .

sábado, 12 de dezembro de 2009

12 de dezembro - Nossa Senhora de Guadalupe


Em 1531 uma "Senhora do Céu" apareceu a um pobre índio de Tepeyac, em uma montanha a noroeste da Cidade do México; Ela identificou-se como a Mãe do Verdadeiro Deus, instrui-o a dizer ao Bispo que construisse um templo no lugar, e deixou Sua própria imagem impressa milagrosamente em seu Tilma, um tecido de pouca qualidade (feito a partir do cacto), que deveria se deteriorar em 20 anos, mas não mostra sinais de deteriorização depois de 474 anos, desafiando qualquer explicação científica sobre sua origem.
Aparentemente parece refletir em seus olhos o que estava a Sua frente em 1531!
Anualmente, Ela é visitada por 10 milhões de fiéis, fazendo de Sua Basílica no México, O Santuário Católico mais popular do mundo depois do Vaticano.
Ao todo 24 Papas tem honrado, oficialmente, à Nossa Senhora de Guadalupe. Sua Santidade João Paulo II, já visitou seu Santuário por 3 vezes: Em sua primeira viagem como Papa em 1979 e novamente em 1990 e 1999. Ele ajoelhou-se diante de Sua imagem, invocou Sua assitência maternal e dirigiu-se a Ela como a Mãe das Américas.
A Virgem Imperatriz da América é também padroeira da Diocese de Estância, que hoje com belissíma cerimônia na Catedral Diocesana a homenageou com uma Missa Solene, tendo a participação dos padres, diáconos, seminaristas e Presidida por Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida, bispo diocesano.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sermão sobre a Parábola do Filho Pródigo - Santo Agostinho


“Disse Jesus: Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte do patrimônio que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. Poucos dias depois ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou sua herança vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome: e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Entrando então em si e refletiu: “Quantos empregados há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados”. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse então: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Mas o pai disse aos servos: “Trazei-me depressa a melhor (primeira) veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também o bezerro cevado e matai-o; comamos e festejemos. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido e foi achado”. E começaram a festa…
CAPÍTULO I
Não é necessário determo-nos em assunto de que já tratamos; mas se não é o caso de nos demorarmos, sim o é de rememorarmos. Vossa prudência ainda lembra que no domingo passado comentei a parábola, lida no Evangelho de hoje, a do filho pródigo, comentário que no entanto não pude concluir. Deus Nosso Senhor quis, porém, que, passada aquela tribulação, possamos hoje continuar a falar.
Sinto-me obrigado a pagar a dívida do sermão, porque as dívidas de amor sempre devem ser pagas. Assista-me Deus para que meus poucos recursos possam satisfazer a vossa expectativa.
CAPÍTULO II
O homem que tem dois filhos é Deus que tem dois povos: o filho mais velho é o povo judeu; o menor, os gentios.
O patrimônio que este recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para que O conhecêssemos e Lhe déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor “partiu para um país muito distante”. Distância significa: o esquecimento de seu Criador. “Dissipou sua herança vivendo dissolutamente”: gastando e não ajuntando; malbaratando tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, em todo tipo de desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.
CAPÍTULO III
Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. “Sobreveio àquela região uma grande fome”; fome não de pão visível mas da verdade invisível. E, por causa da fome, “foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região”: entenda-se o diabo, o senhor dos demônios, sob cujo poder caem todos os curiosos, pois a curiositas é o pestilento abandono da verdade.
À margem de Deus, por entregar-se a seus próprios recursos, foi submetido à servidão e lhe tocou o ofício de apascentar porcos, o que significa a servidão mais extrema e imunda que costuma alegrar os demônios: não foi por acaso que o Senhor, quando expulsou a legião dos demônios, permitiu que entrassem na piara de porcos.
Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar; alimento digno para porcos, mas não para homens: próprias para dar aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.
CAPÍTULO IV
Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem se tinha submetido. Reparai no que diz o Evangelho: “Entrando em si…”; primeiramente, voltou-se para si e só assim pôde voltar para o pai. Dizia talvez: “O meu coração me abandonou (isto é: saí de mim mesmo)” (Sl 40,13); daí que fosse necessário, antes, voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do pai. É o que diz a Escritura quando increpa a alguns, dizendo: “Voltai, pecadores, ao coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)” (Is 46,8). Voltando para si mesmo, encontrou-se miserável: “Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e invoquei o nome do Senhor” (Sl 116,3-4). “Quantos empregados, diz ele, há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome!” (…)
CAPÍTULO V
Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele que fala o Salmo: “Entendeste meus pensamentos de longe” (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o filho tinha em seu interior: “Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados”. Ele ainda nada tinha dito, só pensava em dizer. O pai, porém, ouvia como se o filho já o estivesse dizendo.
Por vezes, em meio a uma tribulação ou tentação, alguém pensa em orar, e, no próprio ato de pensar o que irá dizer a Deus na oração, considera que é filho e que, como tal, tem direito a reivindicar a misericórdia do Pai. E diz de si para si: “Direi a meu Deus isto e aquilo; não temo que, em lhe dizendo isto, e chorando, não seja eu atendido pelo meu Deus”. Geralmente, Deus já o está atendendo quando ele diz estas coisas; e mesmo antes, quando as cogita, pois mesmo o pensamento não está oculto ao olhar de Deus. Quando o homem delibera orar, já lá está Aquele que lá estará quando ele começar a oração.
E assim se diz em outro Salmo: “Eu disse: confessarei minha iniqüidade ao Senhor” (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de algo interior a ele, de um mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: “E tu já perdoaste a impiedade de meu coração” (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de Deus daquele que se confessa! Não, Deus não está longe de quem tem um coração contrito, como está escrito: “Deus está próximo dos que trituram seu coração” (Sl 34,19). E neste triturar seu coração no país da penúria, retornava ao coração para moê-lo. Soberbo, abandonara seu coração; irado com santa indignação, a ele retorna.
Indignou-se contra si mesmo, contra o mal que há em si, para se emendar; retornou para merecer o bem do pai. Indignou-se conforme a sentença: “Irai-vos para não pecar” (Sl 4,5). Pois quem está arrependido fica irado e, por estar indignado consigo mesmo, se pune.
Daí surgem aquelas práticas próprias do penitente que verdadeiramente se arrepende, verdadeiramente se dói, sente ira contra si mesmo. Certamente, é indício dessa ira o bater no peito: o que a mão faz externamente, a consciência o faz internamente: golpeia-se nos pensamentos, ou melhor, produz a morte em si mesmo. E, matando-se, oferece a Deus o “sacrifício de um espírito atribulado. Deus não despreza um coração contrito e humilhado” (Sl 51,19). E, assim, raspando, quebrando, humilhando seu coração, leva-o à morte.
CAPÍTULO VI
Embora tivesse ainda somente a disposição de falar ao pai, cogitando em seu interior: “Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei…”, o pai, que de longe já conhece essas cogitações, foi ao seu encontro.
Que significa “ir ao encontro” senão antecipar-se pela misericórdia? Pois, “estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro”. Por que foi movido pela misericórdia? Porque o filho tinha confessado sua miséria. “E correndo-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço”, isto é, pôs o braço sobre o pescoço dele.
Ora, o braço do Pai é o Filho: deu-lhe, portanto, Cristo para carregar: uma carga que não pesa, mas alivia. “Meu jugo é suave, diz Cristo, e meu fardo é leve” (Mt 11,30). Ele se apoiava sobre o que estava de pé e, por apoiar-se, impedia-o de tornar a cair. Tão leve é o fardo de Cristo que não só não pesa, mas, pelo contrário, até ergue.
Não que o fardo de Cristo seja uma carga dessas que se chamam leves (não há carga, por mais leve que seja, que não tenha algum peso). Pode-se carregar um fardo pesado, um fardo leve ou, ainda, não carregar fardo algum. Anda oprimido quem carrega fardo pesado; menos oprimido quem leva uma carga leve (embora também ande oprimido); com os ombros totalmente desembaraçados, quem não carrega fardo algum. Não é dessa ordem o fardo de Cristo, mas um fardo tal que convém carregá-lo para sentir-se aliviado; se nos desvencilharmos dele, mais carregados nos sentiremos.
E que esta nossa afirmação, irmãos, não vos pareça absurda! Talvez encontremos alguma comparação que vos torne plausível, até em termos de nossa experiência sensível, o que estou dizendo. Um caso, também ele, espantoso e totalmente incrível.
É o seguinte: considerai as aves. Toda ave carrega o peso de suas asas: não reparastes como, quando descem ao chão, recolhem as asas para poder descansar e como que as levam nos costados? Julgais que estão oprimidas pelo peso das asas? Tirai-lhe este peso e cairão: quanto menos pesarem as asas, menos pode a ave voar.
Alguém que, a título de misericórdia, as privasse deste peso, não estaria sendo misericordioso. A verdadeira misericórdia está em poupar-lhes esta privação e, se já perderam as asas, em dar-lhes alimento para que readquiram asas pesadas e possam arrancar-se da terra e voar. É bem este o peso que desejava o salmista: “Quem me dará asas como as da pomba para que eu voe e encontre meu repouso?” (Sl 55,7)
Assim, o peso do braço do pai sobre o pescoço do filho não o carregou, mas o aliviou; foi-lhe honroso e não oneroso. Como é, pois, o homem capaz de carregar consigo a Deus se não é porque o está carregando, o Deus que ele carrega?
CAPÍTULO VII
E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe dêem uma veste: a esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe dêem um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos os pés dos que anunciam a boa nova.
Estas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados? Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons.
Mandou também matar o bezerro cevado, isto é, que fosse admitido à mesa em que o alimento é Cristo morto. Mata-se o bezerro para todo aquele que, de longe, vem para a Igreja, na qual se prega a morte de Cristo e no Seu corpo o que vem é admitido. Mata-se o bezerro cevado porque o que se tinha perdido foi encontrado.

Para refletir...



Por que tornar eterno o que Deus tornou passado?


Porque tornar futuro o que agora Deus lhe dá?


Porque viver refém do que vc mesmo domina?


Porque preferes sequestrar se pode conquistar?


Porque insistes que é fim, se Deus nada encerra?


Porque a tantos conheces mas de ti pouco sabes?


Porque fechar os olhos se podes o avesso enxergar?


Porque tantas feridas se Deus quer lhe curar?


Se desprenda das mordaças que atrasam tua vida


Repense a tua história e veja a beleza que tu és.


não se prenda em teus erros dê ao teu coração


O direito de imperfeito ser e mesmo assim ser feliz!



Coragem, Deus está aqui, vai cuidar de ti não desista de amar


se a vida te feriu e a dor insiste em não passar


no terno abraço de Deus encontrarás teu lugar!


Vem e fala pra mim, se achares que posso te ouvir


chora pra mim o teu Deus se não o podes compreender!


A tempestade passou com ela passou o teu sofrer


Deus tem cuidado de ti e hoje quer lhe dizer


Coragem!


Música composta por Sidney Alves da Paróquia Santa Luzia na Diocese de Campo Limpo. Componente da Banda Tempus Dei

A Oração I



A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ



“Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração...”


Milton Nascimento – “Canção da América”



- O primeiro tempo ou primeira seção do CIC é dedicado a refletir sobre o lugar da oração na vida cristã. Num primeiro momento, como numa introdução, o Catecismo procura responder a pergunta: o que é oração? Depois, no primeiro capítulo desta seção chamado “A revelação da oração”, conta como o Povo de Deus foi descobrindo a vida de oração. Esse capítulo trabalha, especialmente, com a Bíblia.


- No segundo capítulo chamado “A tradição da oração”, o Catecismo estuda como as gerações foram passando umas para as outras aquilo que descobriram. Finalmente, no terceiro capítulo intitulado “A vida de oração”, ele trata dos métodos e das dificuldades da oração.


- Chamando toda esta seção com o título “A oração na vida cristã”, o Catecismo, certamente, quer oferecer uma reflexão que possa ajudar as comunidades a fortalecer a amizade com Deus. Pois a oração só se entende a partir da amizade. Acolher a Deus na oração é como acolher um amigo, “debaixo de sete chaves, dentro do coração”!



è O que é oração? De onde vem a oração humana?



- O que é mesmo oração?


- Essa é a primeira pergunta que o Catecismo se faz. A resposta começa por um testemunho de Santa Terezinha do Menino Jesus: “Para mim, a oração é um impulso do coração. É um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. “A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes” (S. João Damasceno). “A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede que nós tenhamos sede dele” (S. Agostinho).


- A partir da experiência e do testemunho dos santos e santas, o Catecismo conclui uma resposta: “a oração é uma relação viva e pessoal com o Deus verdadeiro” (nº 2558). Observem bem a profundidade dessa definição de oração. Segundo ela, a oração é mais que palavras, mais que fórmulas, mais que gestos. É a relação mesma que se estabelece entre Deus e seu povo. Rezar é entrar em relação com pessoas.



- De onde vem a oração humana?


- É o homem todo que reza, qualquer que seja a linguagem da oração (gestos e palavras). As Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, do coração. É o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vã.


- O coração é nosso centro escondido, inatingível pela razão e por outra pessoa; só o Espírito de Deus pode sondá-lo e conhecê-lo. Ele é o lugar da decisão, no mais profundo das nossas tendências psíquicas. É o lugar da verdade, onde nós escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro, pois à imagem de Deus vivemos em relação; é o lugar da Aliança.


- A oração cristã é uma relação de Aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; brota do Espírito e de nós, dirigida para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem.



· Qual a base sobre a qual a oração se alicerça?


· Se a oração é uma relação, ela só vai existir quando houver amizade e amor. Isso quer dizer que a coração é uma relação de intimidade amorosa com Deus.


· Desenvolver essa relação de intimidade com o Senhor não depende apenas de uma capacidade natural da pessoa. A Oração é um dom de Deus. Se a gente quer orar, a primeira atitude deve ser de pedir esse presente gratuito do Senhor. Jesus disse à Samaritana: “Se tu soubesses, tu é quem lhe pedirias e Ele te daria uma água viva” (nº 2559-2561).


· Na Nova aliança, a oração é a relação viva dos filhos de Deus com seu Pai infinitamente bom, com seu Filho Jesus Cristo e como Espírito Santo. A graça do Reino é a união de toda Santíssima Trindade com espírito pleno. A vida de oração desta forma consiste em estar habilmente na presença de Deus três vezes Santo e em comunhão com Ele. Esta comunhão de vida é sempre possível, porque, pelo Batismo, nos tornamos um mesmo ser com Cristo. A oração é cristã enquanto é comunhão com Cristo e se estende à Igreja que é o seu Corpo. Suas dimensões são as do Amor de Cristo.



· Como podemos aprofundar essa descoberta?


· Quando a gente cultiva uma amizade, vai surgindo uma espécie de cumplicidade entre a gente e a pessoa amiga. Suas opções, desejos, projetos tornam-se os nossos. E os nossos projetos, opções e programas tornam-se os dela. O povo da Bíblia usa justamente a palavra aliança para descrever sua relação com Deus, um compromisso de amor-casamento que o Senhor fez com o seu povo e no qual cada crente se situa. Aí se vive a comunhão com Ele.


· No início esta palavra “aliança” implicava mais num pacto militar e num tratado de pertença total e submissa do fiel a Deus. Depois, ela foi tomando esta noção de cumplicidade, de pacto, de parceria.


· O conceito de Aliança é fundamental na Bíblia e na tradição das comunidades cristãs. Ela encontra sua expressão numa fórmula de reciprocidade: “Vocês serão o meu povo e eu serei o Deus de vocês’ (Ez 36,28). Não é à toa que um dos livros mais queridos pelas comunidades cristãs sempre foi o “Cântico dos Cânticos”. A relação de Deus com o povo é como a relação entre o amado e a amada: “Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim.”


· O Catecismo usa também outra expressão para essa mesma realidade: comunhão. É uma maneira inspirada nos escritos de São João, onde muitas vezes aparecem frases como: “A nossa comunhão é com o Pai e o seu filho Jesus” (1Jo 1,3) (Nº 2562-2565).


· Tendo respondido o que é oração, o Catecismo vai contar como o Povo de Deus foi descobrindo e vivendo isso ao longo da história. É como se a gente abrisse um álbum de fotografias e fôssemos recordando momentos-chave de uma caminhada.


· O Catecismo organizou essas fotografias em três partes, que ele chama de artigos, usando o mesmo raciocínio que São Lucas usou para escrever seu Evangelho e os Atos dos Apóstolos. São Lucas divide a história do Povo de Deus em três: o tempo de Israel, o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. O Catecismo segue o mesmo esquema para contar como o mistério da oração foi sendo revelado: primeiro mostra como isso aconteceu no Antigo Testamento; depois, na vida de Jesus e, finalmente, na Igreja.


· Antes de fazer isso, o Catecismo lembra que esta busca e sede de Deus não é privilégio do cristianismo: “Todas as religiões testemunham essa procura essencial da humanidade”. Em todas elas, de formas diversas, percebemos “o encontro misterioso da oração”. A oração, mais que uma atitude característica desta ou daquela forma religiosa, aparece como atitude de todas as religiões, manifesta-se como dimensão presente em todos os seres humanos (nº 2566-2567).



1. Definição da Oração



- A história da salvação começa no momento em que o homem se torna capaz de receber a revelação na resposta e na oração. Para nós, o homem não se define a partir do uso de certos instrumentos ou da possibilidade de mudar o ambiente em que vive. Tampouco é suficiente a definição de “homo sapiens”. Para nós, o homem se define como “homo orans”, já que adora, escuta e responde a Deus, conferindo verdade à sua própria existência.


- Sem oração o homem não chega à verdade nem descobre seu nome. Nossa existência é dom. Somos chamados pela palavra criadora de Deus e esta palavra é convite para vivermos conscientes em sua presença. Vivendo através do chamado que nos dá vida, podemos encontrar-nos na escuta e na resposta diante de quem nos dá um nome único e tudo o que somos. Não podemos encontrar nossa identidade a não ser voltando-nos para Deus, que é origem e fim de nossa vida.


- Não nos é possível definir o homem sem recorrer ao entendimento da oração. E, do mesmo modo, não podemos compreender a verdadeira natureza e a meta da oração sem compreender a vocação total do homem. Quem é o homem que reza? É oração refletir sobre o mistério do próprio ser? É oração o ato de quem admira a grandeza do universo ou tenta compreender o significado de sua própria existência? Certamente esses atos são fundamentais no homem, pois ele expressa neles sua dignidade e sua dinâmica para o verdadeiro e o bom; mas não podemos definir tudo isto como oração.


- As três notas indispensáveis com que se caracteriza a estrutura interna de quem experimenta a realidade da oração são:


“A fé no Deus pessoal, vivo.


A fé em sua presença real.


Um dramático diálogo entre o homem e Deus que se sabe estar presente”.



1. A fé no Deus pessoal, vivo.


Não se fala de idéia, de coisa ou de força impessoal. Quem faz oração sabe que se encontra diante da sabedoria suprema, que o conhece. Não basta a fé no significado da vida ou numa pessoa humana, mas é necessária a fé em Deus, no Amor.



2. Fé na presença real de Deus.


Quem faz oração tem fé na presença real e ativa de Deus, que se revela e que nos convida desta forma a que lhe respondamos: “ a presença verdadeira só é possível como resposta `revelação real de Deus. A fé vive da oração. Realmente a fé viva em sua essência não é outra coisa senão oração. No momento em que cremos realmente, expressamo-nos por meio da oração; e no ponto em que cessa a oração cessa também a fé viva”.



3. Confiança em que o Deus que nos fala e continua revelando-se há de escutar a nossa oração.


A oração supõe, portanto, a relação tu-eu e eu-tu. A fé que dá força à oração pode ser condensada da seguinte forma: “Tu és e eu sou graças a ti e tu me convidas a viver contigo”.


- Estas três condições constitutivas da oração estão presentes onde existe religião autêntica. Mas isto não exclui que a conceitualização possa não ser muito clara. Pode acontecer que pessoa determinada se declare panteísta (Panteísmo, crença que identifica Deus e o mundo. Concebe Deus como a única realidade subordinada, emanação ou ‘processo de Deus’, segundo Spinoza), ao passo que na realidade faz oração e considera Deus como um “tu”. Onde se faz oração com confiança e com fé viva, aí está a presença do Espírito de Deus. E a graça de Cristo não está ausente, embora quem faz a oração não conheça nem Jesus nem o mistério da Trindade.



2. O caráter especificamente cristão da Oração



- “Diante de Deus não há acepção de pessoas” (Rm 2,11). Ao falar, portanto, do caráter especifico da oração cristã, não devemos vangloriar-nos diante dos que não são cristãos. Impõe-se, no entanto, a meditação sobre os muitos motivos de reconhecimento pela vocação que nos foi reservada, e sobre a conseqüência de devermos dar testemunho atraente e convincente de nossa oração. O cristão que reza sabe o que é a vida eterna: conhece a Deus como Pai do Senhor Jesus, conhecer Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mediador entre nós e o Pai, e crer no Espírito Santo que ora em nós.


1. Abbá, Pai!- Todas as orações de todos os tempos alcançam seu ápice em Cristo, que chama o Deus onipotente de ‘Pai’ de forma única: seu ‘Abbá, Pai!’ ecoa nos corações dos apóstolos, e com este nome Jesus nos convida e nos ensina a nos dirigirmos a Deus. Não cremos apenas no Deus pessoal, criador, onipotente, mas nós o adoramos e o amamos como Pai, nosso e do Senhor Jesus. isso nos dá uma confiança única; não nos esqueçamos, porém, de que ele está “nos céus”, isto é, que se trata do Deus santo, ao passo que nós somos as criaturas, pecadoras, quanto mais conscientes estivermos do nosso pecado, tanto maiores serão não só nosso temor, mas também a gratidão, a alegria e a felicidade na oração.


Cristo tornou o Pai visível. Mas nossa oração não poderá unir-se à sua quando invoca o Pai, se nós não nos unimos também ao amor que ele manifestou possuir por todos os homens.


Cada um de nós está diante de Deus com nome irrepetível; mas, para encontrarmos este nome, devemos viver a solidariedade da salvação, que nossa fé expressa em nosso Pai e em Cristo, solidariedade de salvação encarnada.



2. Oração em Cristo e a Cristo - em Cristo o Pai está mais perto de nós e manifesta-se como “Deus conosco”. Somente em Cristo podemos atrever-nos a dizer “Pai nosso”. É Cristo que nos mostra o valor de orar com confiança com ele aprendemos a adorar a Deus em espírito e verdade, e esta adoração só tem valor enquanto se une à sua e é oferecida em seu nome. A oração cristã tem como base não só a fé em Cristo, mas também seu conhecimento.


Na liturgia nossa oração costuma dirigir-se ao Pai por meio de Cristo nosso Senhor. Ele, verdadeiro homem, assume nossas orações e lhes dá o valor da sua. Mas Jesus é também verdadeiro Deus; por isso nossa oração litúrgica comunitária, e com maior razão nossa oração pessoal, pode dirigir-se diretamente a ele. Não se pense que desta forma se deixo o Pai relegado, pelo contrário, em Cristo fortifica-se a união com Deus no espírito Santo. A Cristo podemos oferecer o culto latrêutico.



3. Creio no Espírito Santo – a oração especificamente cristã expressa a fé viva na Trindade. Cremos no Espírito Santo, doador de vida e que é adorado juntamente com o Pai e com o filho. Podemos adorar a Deus em espírito e em verdade justamente porque somos filhos de Deus guiados pelo Espírito. (cf. Rm 8,15-16)


É o Espírito Santo que nos dá a sabedoria e o gosto pela oração correta. Torna-nos vigilantes na espera do Senhor e atentos aos sinais dos tempos, que são os sinais de presença de Deus. E assim torna-se possível, graças ao Espírito, a oração, que é integração entre fé e vida.



3. Oração: presença e escuta de Deus



- Deus está sempre presente, mas esta sua presença só é recebida e só transforma a nossa vida se oramos. Por meio da oração cumpre-se a reciprocidade das consciências e a presença recíproca. A presença divina é fonte de vida e de luz. Na oração tomamos consciência dela e nos abrimos à vida e à luz. Nela vivemos com intensidade o momento presente, porque encontramos o Senhor da história no reconhecimento por tudo o que nos deu no passado e na espera da transfiguração final.



- A iniciativa divina


- Na oração especialmente cristã manifesta-se grande consciência da iniciativa divina. Deus nos amou antes que nós existíssemos e nos chama antes que tenhamos dado o mínimo passo em direção a ele. Esta iniciativa do Senhor é enfatizada por toda a nossa fé. A justiça que nos salva, a paz messiânica, a reconciliação, tudo é concebido como dom gratuito e iniciativa de Deus. “Tudo vem de Deus, que nos reconcilia com ele por meio de Cristo” (2Cor 5,18). A experiência mística dos santos caracteriza-se pela consciência desta iniciativa, e tanto maior será o progresso da vida espiritual do homem quanto mais será atento e agradecido por ele ao dom que lhe é dado.


- Para o homem de oração, todas as coisas trazem a marca da iniciativa divina e convidam ao louvor, à gratidão e à adoração. Deus fala mediante as realidades criadas. Todas as obras de Deus são palavras, mensagens, dons e convites para dar-lhe graças e alegrar-nos. Sabemos que o ato de admiração diante da beleza do criado não pode chamar-se oração; não obstante, ele é indispensável para o seu desenvolvimento. De fato, quanto mais uma pessoa progride na oração, tanto maior é sua admiração pela criação, porque tudo fala da grandeza, majestade, da sabedoria e da bondade de Deus. O cristão se regozija a contemplar a evolução do mundo, pois tudo aparece e se converte em mensagem mediante o Verbo eterno e com vistas à encarnação. “O céu manifesta a glória de Deus e o firmamento proclama a obra de suas mãos” (Sl 19,2).


- Especialmente a presença de Deus se manifesta no homem criado à sua imagem. Deus está presente em nós e em nosso próximo como criador, redentor e artífice que leva adiante, para acaba-la, a obra que tão maravilhosamente começou. Esta obra prima é convite para colaborarmos com ele; devemos ser co-artífices e co-reveladores do seu amor. Todo homem é chamado a se converter em sinal visível, em sacramento da presença de Deus, para lembrar sua ativíssima presença e convidar ao louvor, à ação de graças e à intercessão. A escuta da palavra de Deus, presente na criação e, sobretudo no homem, converte-se em oração e quando adoramos e louvamos a Deus, ao mesmo tempo que demonstramos, diante de toda a realidade que nos circunda, a responsabilidade que constitui uma autêntica resposta ao Criador.


- A oração especificamente cristã é marcada pelo fato de que Deus nunca se expressa com palavras vazias, mas sua palavra é eficaz, é acontecimento e é obra visível. Assim, a oração do cristão jamais pode dissociar-se da história da salvação e dos acontecimentos, porém deve integrar-se como palavra que traz frutos de caridade, de justiça, de criatividade e de fidelidade.


Uma forma de presença ativa de Deus é constituída pelos sinais dos tempos. Para quem não crê e se negar a colocar seu coração à escuta da palavra, o livro da história é livro selado e carente de sentido. Mas, para o cristão, que conhece Cristo e reconhece nele o senhor da história, os acontecimentos históricos se transformam em palavra poderosa, que requer palavra solidária.


- Na sensibilidade diante dos sinais dos tempos e na vida solidária e responsável enraíza-se o caráter especifico dos cristãos, reino de sacerdotes. Esta dimensão torna evidente a impossibilidade de que a oração cristã se reduza a simples recitação de fórmulas. Diante do crente abre-se sempre a perspectiva e o programa do “pai-nosso”. Ele é vida: integração entre fé e vida pela vigilância diante dos sinais dos tempos e pela prontidão de resposta pessoal e solidária.



- O papel da sagrada Escritura


- A Sagrada Escritura é palavra de Deus de forma privilegiada. Sem a atitude de disponibilidade á resposta, não se pode medita-la e ela acaba deixando de ser proveitosa. Não esqueçamos que a escritura narra a história das relações de Deus com o gênero humano e deste com Deus. Por isso fala a todos os que permanecem integrados voluntariamente nesta história e estão dispostos a ser co-agentes da mesma junto com Cristo e com os santos.


- O estudo da Escritura presta serviço precioso à própria oração e à vida inspirada nela, porque ajuda a compreender a dinâmica da história da salvação e as circunstâncias concretas em que Deus fala e solicita resposta existencial e orante. Quem lê a Bíblia esperando unicamente receber consolo dela sem estar disposto a corresponder ao que ela diz como co-autor da história salvífica, prejudica a dinâmica da palavra divina e vê esvair-se sua própria meta. Mas também quem estuda o texto sagrado com atitude critica sem espírito de oração não se encontra no cumprimento da onda que permite captar seu autêntico significado.


- Todos nós, pelo menos uma vez em nossa vida, deveríamos sentir a exigência de ler a Bíblia inteira com especial atenção, porque ela nos ensina a escutar e a responder com toda a nossa vida. Então, ela seria para nós o que deve ser, escola de oração.


- Nem todas as orações do Antigo Testamento representam para o cristão resposta adequada a Deus. A situação do Antigo Testamento é diferente da nossa. Algumas orações ainda mostram a penumbra da época da espera. Mas a própria imperfeição daqueles sentimentos deve transformar-se em motivo de gratidão pelo dom da luz que recebemos em Cristo. E não devemos esquecer que tal imperfeição reflete a lenta trajetória da conversão de cada homem, inclusive do homem de hoje. Devemos aprender a orar como Cristo nos ensinou e como os grandes santos da nova aliança o experimentaram.



- O papel da comunidade de fé


- O crente não parte do zero na oração. Ele é sempre um ser um ser que renasceu na comunidade de fé, de esperança, de amor e de louvor a Deus. Também esta é iniciativa gratuita de Deus; convite ao reconhecimento e a docilidade. À comunidade nós nos unimos na escuta da palavra de Deus, na busca dos sinais dos tempos, na resposta cultual e existencial. Tanto mais eficaz será para nós o apoio da comunidade quanto mais dispostos estivermos a dar a nossa colaboração para a sua vida de fé e de compromisso total, e para o seu culto, lembrando que na comunidade se manifesta para nós a plena comunhão dos santos.


- A consciência da união com todos os santos aumenta nossa confiança na oração e ao mesmo tempo nos impele à solidariedade tanto na oração como na vida. A gratidão pela intercessão dos santos será uma razão para interceder por todos os homens.



- O papel do pobre


- Na tradição profética, a oração é descoberta da palavra que Deus dirige mediante o pobre. A aceitação humilde, agradecida e generosa do pobre é progresso no conhecimento de Deus e na verdadeira oração.


- O homem, imagem de Deus, revela-nos a face divina, quando nos aproximamos do próximo com amor generoso e desinteressado. Quando aceitamos o outro esperando dele possível recompensa, não se dará verdadeira transcendência do eu para o outro. Pelo contrário, se servimos humildemente o pobre reconhecendo seu direito à nossa solidariedade em sua dignidade e em sua miséria, então é sinal de que escutamos verdadeiramente a voz de Deus, que procede tanto do alto quanto de baixo. Este é um dos pensamentos centrais da filosofia e da teologia de Manuel Levinas; “O outro que enquanto outro se sita numa dimensão de altura e de abatimento, tem o rosto do pobre, do estrangeiro, da viúva e do órfão e, ao mesmo tempo, do Senhor chamado a investir e a justificar a minha liberdade”.


- Quem reconhece no pobre a dignidade e o direito de ser amado e ajudado supera o próprio eu e se faz pessoa em diálogo, enquanto ao outro se propõe o convite mais glorioso e urgente a responder. Respondendo desta forma ao pobre, responde-se a Deus, e chega-se ao conhecimento mais profundo da transcendência divina, condição necessária par a oração especificamente cristã. Esta oração é possível a todo homem de boa vontade.



4. A centralidade da Eucaristia



- O que dissemos até aqui sobre a oração especificamente cristã encontra seu ponto central na eucaristia. Nela adoramos o Pai em Cristo, com Cristo e por Cristo; nela recebemos o dom do Espírito, que ao mesmo tempo nos torna capazes de acolher tal dom supremo e de transformar a nós mesmos em dom.


- A eucaristia é o centro do culto da Igreja; ela sempre cria de novo a comunhão de fé, de esperança, de caridade e de adoração em espírito e em verdade.



1. Dar graças sempre e em todo lugar


- Eucaristia significa ação de graças, Jesus, tomando o cálice da salvação, aceitando sua suprema vocação de sumo sacerdote e de vitima “deu graças”. Ao celebrar a eucaristia, entramos na mesma dimensão, toda perversão e alienação entrou no mundo porque o gênero humano não quis dar graças e se negou a honrar a Deus como Deus. Na ação de graças e na adoração em espírito e em verdade oferecida a por Jesus Cristo ao Pai, realiza-se e cumpre-se nossa redenção. Entrando nesta dimensão de gratidão, o homem torna-se participante da redenção.


- É fácil perceber a dimensão eucarística em todas as partes da missa e sua manifestação em todos os momentos da vida e da oração.


O rito penitencial do começo e suas invocações durante a missa são uma confissão de louvor, um louvor ao Senhor porque ele é bom. Durante a missa, oferecemos orações, súplicas e intercessões em que espírito de gratidão, conscientes de que estão unidas às de Cristo e às dos santos.


Ao escutar a palavra de Deus, respondemos “Graças a Deus”, ou então: “Glória a vós, Senhor”. Não é possível receber a bênção da palavra de Deus sem escutá-la e acolhe-la com espírito de gratidão.


A profissão de fé na recepção jubilosa e grata da Boa nova, transforma a vida em fé agradecida que dá fruto na caridade e na justiça.


No ofertório afirmamos que tudo o que somos e o que possuímos é dom De Deus. Este dom tem dimensão social, e a ele deve associar-se o homem no serviço do reino de Deus e do próximo, e, somente entregando-se em resposta a Deus pode gozar de sua presença.


Com estas disposições, podemos entrar na grande oração eucarística, que nos mostra como via da salvação o dar graças sempre e em todo lugar.



2. Oração e sacrifício de si mesmo


- Cristo se torna presente e entrega-se na eucaristia. Ungido pelo Espírito Santo, ele entregou-se para a glória do Pai e pela salvação dos homens em toda a sua vida, e de forma particular no momento da morte. Cristo ressuscitado está presente no poder do Espírito Santo e continua dando-se e enviando este mesmo Espírito aos homens para que saibam entregar-se à glória de Deus Pai no serviço do próximo. Somente desta forma o homem participa verdadeiramente do sacrifício eucarístico e recebe a comunhão que permite a Cristo continuar sua obra salvífica nele e por seu meio. Também assim nós aceitamos nossa missão maravilhosa: a de sermos mensageiros de paz e de reconciliação.



3. A eucaristia: oração e evangelização


- A eucaristia é ação de graças que responde à proclamação solene e central da mensagem evangélica. Se os fiéis e os sacerdotes soubessem celebrar e viver o memorial da morte e da ressurreição de Cristo, sua vida se transformaria sob todos os aspectos em testemunho alegre e agradecido da salvação. Será, portanto, a celebração eucarística o que decidirá o futuro da evangelização.


A presença e a assistência do Senhor com vistas à evangelização tem seu ponto culminante da eucaristia; numa comunidade que dá graças pelo Evangelho e que vive nele a ponto de fazer de seus membros um evangelho vivo. Nunca haverá crise perigosa para as vocações sacerdotais e religiosas enquanto se souber celebrar aa eucaristia, proclamar o Evangelho e corresponder com gratidão; quem vive desta forma sabe que a consagração ao serviço da Boa Nova é um dos dons maiores de Deus.



4. O papel dos outros sacramentos


- Relacionados com a eucaristia, também os outros sacramentos são essenciais para a oração especificamente cristã. Os sacramentos são proclamação da Boa Nova de forma bem concreta e em ambiente cultual. São intercessão na comunhão dos santos. Sua oração de súplica expressa diante dos sinais da promessa. São pontos de encontro entre a palavra de Deus, que toca e transforma o homem, e sua resposta com Cristo na comunidade de fé.


No Batismo a oração que se apóia nele, nos dirige constantemente para a eucaristia, celebração central e culminante da nova e eterna aliança, que une entre si todos os batizados.


No santo crisma, a oração especificamente cristã expressa-se no credo. A oração que corresponde a este dom superabundante é, sobretudo a oração de ação de graças de louvor.


A celebração do sacramento da reconciliação nos prepara para gozar da comunhão. Celebrar este sacramento significa orar, tanto por parte do sacerdote quanto por parte do penitente, num diálogo que nos abre novas dimensões pessoais e sociais. O sacerdote louva e adora a misericórdia divina e o pecador expressa também por meio do louvor e da ação de graças a recepção do dom.


A ordenação sacerdotal é especificamente uma efusão do Espírito Santo. A vocação sacerdotal é em primeiro lugar vocação para ser homem e mestre de oração, para que todo o povo sacerdotal de Deus possa chegar à adoração em espírito e verdade.


O matrimônio entre cristãos é sacramento de forma distinta, porque os esposos recebem a certeza da presença de Cristo sempre que estão unidos em seu nome. É, portanto, fundamental a oração da família. Compete aos pais iniciar os filhos na oração que é integração entre fé e vida.



5. Tradição sacerdotal e tradição profética



1. O papel do sacerdote


- É definido como homem de oração, adorador de Deus em espírito e em verdade, homem espiritual que pode proclamar o mistério da salvação no culto e na vida, mestre de oração especificamente cristã. Para que todos os crentes saibam que se trata de oração autêntica. Os seminários deveriam ter como missão primordial a de serem escolas de oração, de forma que os sacerdotes sempre pudessem nela viver como irmãos e testemunhas visíveis de sua missão solidária de promover o espírito e a prática da oração.


2. Os desvios do sacerdotalismo


- Desvio típico presente no Antigo Testamento e na história da Igreja. Não se trata, evidentemente, aí do que constitui uma nota característica no sacerdote que participa do sacerdócio profético de Cristo, trata-se, pelo contrário, dos que não são homens plenamente espirituais ou que, reunidos em grupo, se consideram como classe privilegiada e tendem a manter os leigos em posição subordinada como seres imaturos, provocando assim grave desvio da oração. Nestas situações é fácil encontrar sacerdotes muito escrupulosos na observância das rubricas mais minuciosas ou na pronúncia de certas palavras, ao passo que se esquecem da missão principal: a adoração de Deus em espírito e verdade. Esse desvio tem como conseqüência reduzir a oração à recitação sem contato com as alegrias, as esperanças, as angustias e os sofrimentos dos seres humanos. Desta forma, falta uma das características essenciais, que é a integração entre fé e vida.


Justamente nesta decadência, verdadeira desintegração, manifesta-se a força do pecado original, do egoísmo. Onde faltam a espontaneidade e a criatividade na oração, a “carne” toma a dianteira. Este sacerdotalismo, tendência da classe sacerdotal demasiado preocupada com sua própria superioridade, comprova a verdade das afirmações do apóstolo Paulo: “Não como se fôssemos dotados de capacidade que pudéssemos atribuir a nós mesmos, mas é de Deus que vem a nossa capacidade. Foi ele quem nos tornou aptos para sermos ministros da Aliança nova, não da letra, e sim do espírito, pois a letra mata, mas o espírito comunica a vida” (cf. 2Cor 3,5-6).


4. A tradição profética


- Contra a degradação sacerdotalista, Deus em sua misericórdia enviou os profetas. Também havia entre eles sacerdotes, mas não eram maioria. Cristo é o profeta. E não pertence à classe sacerdotal. A oração profética brilha pela integração da fé na vida. Todo o seu se expressa diante de Deus na aceitação: “Eis-me aqui, Senhor, chama-me; eis-me aqui, envia-me”.


Modelo de sacerdote e de todos os membros do povo sacerdotal de Deus. Cristo o é sempre como profeta, como adorador do Pai em espírito e verdade. Jesus nos ensina a síntese entre oração e vigilância, entre amor de Deus e do próximo.


Onde se vive a tradição profética não existe o penoso complexo de insegurança. A oração profética é o distintivo do povo de Deus peregrinante que caminha atrás do Senhor da história. Sobretudo em épocas de profundas transformações culturais e sociais, devemos recorrer a Cristo como profeta e constatar nossa continuidade com a história profética da Igreja.



6. As devoções



- Nas devoções que a piedade popular tornou tradicionais, quando celebradas com espírito adequado, encontra-se a riqueza da oração.


Visita ao Santíssimo Sacramento – a presença humilde e contínua de Cristo na tabernáculo sempre disposto a receber e a visitar os enfermos, poderá reavivar nossa memória agradecida. A mera presença diante daquele que fica conosco pode trazer-nos paz, alegria e muitas vezes grande entusiasmo, que se expressa na oração afetiva. A visita ao Santíssimo Sacramento é a continuação contemplativa da celebração eucarística e nos prepara para a seguinte. Do mesmo modo poderemos considerar a bênção eucarística; nela louvamos a encarnação, da morte e a ressurreição de Cristo à espera de sua vinda, fonte de toda bênção.


Via sacra – é uma devoção fácil e atraente, que tem raízes também na forma contemplativa da celebração litúrgica.


Veneração da Virgem Maria, o rosário, o terço, quando recitado meditando verdadeiramente os mistérios principais da nossa salvação, evidencia sua relação com a eucaristia. É importante, porém, que não seja meditação mecânica do Pai-nosso e da ave-Maria. Deve haver tempo suficiente para ler o relato evangélico do mistério e tempo suficiente para a meditação e a oração espontânea tirada das fórmulas tradicionais da oração.


SC 13 – “Recomendam-se encarecidamente os exercícios piedosos do povo cristão, contanto que estejam de acordo com as leis e as normas da Igreja... Ora, é preciso que estes mesmos exercícios se organizem levando em consideração os tempos da liturgia, de certo modo dela decorram e a ela conduzam o povo, já que a liturgia por sua natureza está muito acima deles”.