quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Igreja, ícone da Trindade I



DE ONDE VEM A IGREJA?


· A concepção de Igreja predominante na Teologia católica antes do Vat. II é o “Cristomonismo” como descreve - Yves Congar;


· O I cap. da “De Ecclesia” (Lumem gentium) é um resgate da profundidade trinitária da Igreja. A Igreja provém da Trindade, é estruturada à imagem da Trindade e ruma para o acabamento trinitário da história. Vinda do alto, plasmada pelo alto e rumo ao alto (LG 3).


· Pontos de articulação:


a) A Igreja vem da Trindade: O universal desígnio do Pai (LG 2), a missão do Filho (LG 3), a obra santificante do Espírito(LG 4) edificam a Igreja como “mistério”, preparada desde as origens (Ecclesia ab Abel).


b) A Igreja é ícone da Trindade Santa: por analogia é comparada ao mistério do Verbo encarnado na sua dialética (visível e invisível) refletindo a comunhão trinitária.


c) A igreja orienta-se para a Trindade: é a Igreja dos peregrinos (Ecclesia semprer reformanda), in comunio cum Ecclesia Celestia.


1) A ORIGEM TRINITÁRIA DA IGREJA


1.1. A renovação eclesiológica


Anterior ao Vaticano II o que caracterizava a Igreja era o cristomonismo: atenção privilegiada que se dispensava aos aspectos cristológicos da Igreja, e conseqüentemente à sua dimensão visível e institucional.


Abaixo seguem algumas reações sucessivas à concepção de Igreja até a definição de Belarmino:a Igreja é a comunidade dos homens reunidos mediante a profissão da verdadeira fé, a comunhão dos mesmos sacramentos, sob o governo dos legítimos pastores e, principalmente, do único Vigário de Cristo sobre a terra, o Romano Pontífice. [...] A Igreja é uma comunidade de homens visíveis e palpáveis quanto a comunidade do povo romano, ou o reino da França ou a república de Veneza.”


A Característica desta definição é a visibilidade (estrutura piramidal), sob a orientação da Cabeça visível: o bispo de Roma.


Esta definição é o resultado das reações da Igreja:


· Contra o regalismo – tendente a subordinar o poder espiritual ao temporal, desenvolveu-se a teologia dos poderes hierárquicos e da Igreja como reino organizado;


· Contra as teorias conciliares – que subordinavam o ministério do papa à autoridade do Concílio, acentuou-se o papel do primado papal;


· Contra o espiritualismo de Wiclif e de Hus, - a dimensão eclesiástica e social do cristianismo;


· Contra a Reforma – quis-se reafirmar o valor objetivo dos meios da graça, natureza dos sacramentos e do ministério hierárquico;


· Contra o jansenismo mais ou menos ligado ao galicanismo episcopal e regalista – que tendia à valorização das Igrejas nacionais –, serão reforçados os poderes do centralismo romano;


· Contra o laicismo e o absolutismo estatal do século XIX­ – insistir-se-á na tese da Igreja como sociedade perfeita, dotada de direitos e de meios próprios e auto-suficientes;


· Contra o modernismo – a vigorosa afirmação das prerrogativas da Igreja docente.



As causas mais profudnas e decisivas para a renovação eclesiológica são de ordem espiritual. Segundo Yves Congar é “redescoberta dos elementos sobrenaturais e místicos da Igreja, de um esforço humilde e religioso para considerar o mistério da igreja em toda a sua divina profundidade”.


1.2. O Concílio da Igreja


Desde o início, o Vaticano II se caracterizou como o Concílio da Igreja. E se articule em duas partes: Ecclesia ad intra (o que é a Igreja?) e Ecclesia ad extra (o que a Igreja faz?). Assim expressa claramente já nas primeiras palavras da Constitutio de Ecclesia, evidenciando uma tríplice preocupação de:


· Fidelidade à própria identidade, conferida por Cristo (perspectiva cristológica);


· Fidelidade aos homens, a cujo serviço se coloca (perspectiva antropológica);


· Preocupação em fazer com que uma e outra fidelidade se encontrem no mistério da aliança que é a Igreja (perspectiva sacramental). (Vide LG 1)


A Igreja se oferece como o lugar do encontro entre a iniciativa divina e a obra humana. Portanto, o Concílio da Igreja restitui à eclesiologia católica, o frescor e a profundidade da relação com a Trindade e a consciência de um ser na história que não é mero ser da história.


1.3. A eclesiologia trinitária do Vaticano II


· A Igreja vem da Trindade, estrutura–se à imagem da Trindade e dirige-se para o acabamento trinitário da história.


· As 3 perguntas chaves: De onde vem a Igreja? O que é? Para onde vai? São às que o Concílio quer responder a partir da origem, forma e destinação trinitária da Ecclesia.


· A origem trinitária da Igreja é apresentada quando se descreve a economia da salvação: o fim do desígnio livre e arcano, gratuito e insondável do Pai é a elevação dos homens à participação na vida divina, na comunhão da Trindade: “O Pai eterno, por libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou todo o universo. Decretou elevar os homens à participação da vida divina” (LG 2).


· A Igreja é participação histórica na unidade trinitária, que brota da iniciação divina, mistério ou sacramento da “intima união com Deus e da unidade de todo gênero humano” (LG 1).


· Na água e no sangue que jorram do lado do Crucificado, os Padres viram os sacramentos do batismo e da eucaristia: é a idéia de que a estrutura sacramental da Igreja deriva do Cristo pascal.


· A Igreja, que celebra a Eucaristia, dela nasce como corpo de Cristo na história.


· O Espírito dá a vida. Ele habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo, levando-a ao conhecimento da verdade total.


· A Igreja desejada pelo Pai é criatura do Filho (creatura Verbi: criatura da Palavra de Deus), sempre vivificada pelo Espírito Santo: essa é “a obra da Trindade santa”. A Igreja, que representa Jesus Cristo, deve ser a manifestação, no tempo, da vida trinitária.


· Para são Cipriano a unidade da Igreja não é inteligível sem a unidade da Trindade.


· Ecclesia est ícone de trinitate sancta: na comunhão, estrutura-se à imagem e semelhança da comunhão trinitária.


· A Igreja, na comunhão é imagem e semelhança da comunhão trinitária. Ela, nascida do Pai, pelo Filho, no Espírito, sua comunhão eclesial deve, no Espírito e através do Filho, voltar ao Pai.


· A Trindade é a origem e pátria para qual se encaminha o povo peregrino: é o e o ainda não da Igreja.


· A Igreja está sempre em devir, nunca concluída e por isso “semper reformanda”, necessitada de uma renovação perene, pela força do Espírito.


· A Igreja “inter tempora” ruma para Trindade na invocação, no louvor e no serviço, sob o peso das contradições presentes e enriquecida pelo jubilo da promessa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário