quinta-feira, 22 de abril de 2010

Carta de Dom Henrique Soares aos Sacerdotes


Amados Irmãos sacerdotes de Cristo,



Estamos no Ano Sacerdotal, querido pelo Santo Padre Bento XVI, porque com seu coração de sábio e prudente Pastor da Igreja de Cristo, vê claramente as tremendas dificuldades e desafios de ser padre na época presente.

Desafios? Sim! Além dos de sempre, da luta interior contra nossas tendências desencontradas - herança de filhos de Adão -, aqueles outros, decorrentes de um mundo secularizado, cada vez mais descristianizado e que tudo relativiza: Deus, o seu Cristo, a sua Igreja, a doutrina e a moral católicas... Parece que tudo pode ser barganhado e tratado na brincadeira!

E os sacerdotes não são caídos do céu: são filhos deste tempo, com as tentações deste tempo, as fraquezas deste tempo e, no entanto, agora, neste tempo, devem ser homens do céu, testemunhas da eternidade!

Por isso o Ano Sacerdotal: para fomentar e aprofundar nos sacerdotes a consciência da dignidade, da responsabilidade de sua vocação e de seu ministério; para fomentar no Povo de Deus uma consciência mais profunda de quão divino e quão humano deva ser o sacerdote...

E, precisamente, no Ano Sacerdotal, a imprensa divulga velhos e já conhecidos escândalos perpetrados por alguns membros do clero, com o único fito de desacreditar o Santo Padre e a Igreja de modo geral. Além do mais, alguns fatos recentes, bem concretos e dolorosamente verídicos, dentre os quais o escândalo lastimável, inominável na Igreja diocesana de Penedo (minha Igreja Mãe, na qual fui batizado, crismado e na qual recebi pela primeira vez o sagrado Corpo do Senhor; Igreja de tantos sacerdotes exemplares e de tão piedoso Povo de Deus!).

Quantos bons sacerdotes tenho ouvido nestes dias, entristecidos e envergonhados. Quantos desanimados!

A vós, queridos sacerdotes, queria dizer uma palavra como Bispo da Igreja de Cristo. Nunca vos envergonheis do santo ministério ao qual o Senhor vos chamou! Nunca deixeis que a má conduta vergonhosa e reprovável de uns poucos, tão gozosamente divulgada por um mundo sedento de escândalos, vos faça esquecer a multidão de tantos sacerdotes santos, que com amor, com dedicação admirável, entregam toda a vida, de corpo e alma, ao serviço de Cristo e dos irmãos! Que a infidelidade ao celibato e a vulgaridade grosseira de alguns, tão abertamente reveladas nestes dias, não vos façam esquecer a beleza e o profundo sentido do estilo de vida ao qual o Senhor nos chamou: solteiros pelo amor de Jesus, solteiros pelo Reino dos Céus, solteiros porque imagem do Esposo da Igreja, solteiros para a todos chamar de filhos em Cristo verdadeiramente e sem limites!

Queridos sacerdotes, o Senhor vos chamou, o Senhor vos ungiu, o Senhor vos consagrou! Não vos esqueçais nunca que do vosso – do nosso – sacerdócio faz parte a participação na cruz de Cristo! Neste momento de prova e de dor para tantos de vós que, inocentemente, talvez sintais a desconfiança imotivada e preconceituosa de alguns, fixai o vosso olhar nAquele que por nós sofreu tão grande contradição: Jesus, o autor e consumador da nossa fé. Ele é tão belo! Quando nos fixamos nele, o mais amargo se torna doce e toda a treva se dissipa...

Pensando em vós, amados em Cristo, vêm-me frequentemente à mente duas palavras da Escritura Sagrada: uma do Apóstolo:

(1) “Julgo que Deus nos expôs em último lugar como condenados à morte: fomos dados em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Somos loucos por causa de Cristo, vós, porém, sois prudentes em Cristo; somos fracos, vós, porém, sois fortes; vós sois bem considerados, nós, porém, somos desprezados. Somos amaldiçoados, e bendizemos; somos perseguidos, e suportamos; somos caluniados, e consolamos. Até o presente somos considerados como o lixo do mundo, a escória do universo” (1Cor 4,9-13). Não quero ser ou parecer dramático com estas palavras nem desejo que assumamos uma atitude vitimística! Mas, desejo que compreendais que esta situação na qual tantos e tantos de vós, zelosos e fieis sacerdotes, vos encontrais cheios de embaraço e talvez de desânimo, faz parte do nosso ministério. Não é à toa que nos propomos seguir o Cristo! A escolha dele e a resposta nossa têm conseqüências muito concretas e, por vezes, dolorosas em nossa vida! Como o santo Apóstolo, nas palavras acima, não vos canseis de abençoar, de suportar, de consolar! Não vos canseis de ser sinal da presença santa e santificadora de nosso Salvador nesta terra de exílio, sem buscardes outra recompensa que não o próprio Senhor, nosso Amigo, que nos chamou!



(2) A outra palavra que me tem vindo à mente e ao coração é do nosso Jesus: “Vós sois os que permanecestes constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino, como o meu Pai o dispôs para mim a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino,” (Lc 22,28-30). Permanecer com Jesus – eis a nossa sina, a nossa herança, a nossa cruz e a nossa maior honra; eis a nossa alegria! Convido-vos, queridos padres, a que mantenhais os olhos fixos no Senhor e aproveiteis este momento de prova e de purificação, como um chamado do Senhor a uma maior conversão a ele! Convido-vos, como vosso irmão e Bispo da Igreja, a que vos mantenhais profundamente unidos a Jesus e a nele encontrar a motivação, o entusiasmo e a alegria da vossa vocação!



São Paulo nos diz que “Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,27). Nesta situação, que nos deixa perplexos e entristecidos ao constatar a triste e grosseira infidelidade de alguns que deveriam ser sinais da santidade e da benignidade do Senhor Jesus, não vos deixeis abater, mas senti-vos ainda mais interpelados e impelidos a uma vida de santidade e coerência, como dispensadores dos mistérios de Deus (cf. 1Cor 4,1) em favor dos irmãos, em favor do mundo inteiro.

Certamente, que sentis também o belíssimo testemunho de fé e de carinho de tantos membros do Povo de Deus, que sabem poder contar com seus pastores e neles confiar! Aliás, os católicos praticantes, aqueles que estão diuturnamente nas nossas comunidades, sabem apreciar a beleza do sacerdócio e a grandeza dos sacerdotes, apesar de trazermos este tesouro em vasos de argila (cf. 2Cor 4,7). Desses leigos tão generosos e fieis, quanto tendes recebido de apoio e incentivo! Sejam eles uma palavra e um carinho de Cristo para todos vós!

Queridos irmãos sacerdotes, acolhei esta minha palavra de confiança em vós, de apoio, de conforto, de solidariedade! Sei do vosso valor e da vossa grandeza, da vossa generosidade e das vossas tribulações. Por isso senti-me impelido a escrever-vos de modo público para vos testemunhar todo o meu afeto no Senhor! Sei que este é o sentimento de todos os meus irmãos no Episcopado! Penso, portanto, também fazer-me intérprete do sentimento que todos eles nutrem por vós, nossos diletos cooperadores.

Que Cristo Jesus vos abençoe, vos conceda a graça da fecundidade espiritual e vos faça cada vez mais santos e dedicados pastores do rebanho do Senhor!

Com todo o meu afeto paterno,



+Henrique

Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracaju - SE

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