segunda-feira, 19 de abril de 2010

Formação Litúrgica


A SANTA MISSA
RITOS INICIAIS

“Os ritos iniciais que precedem a Liturgia da Palavra, isto é, entrada, saudação, ato penitencial, Kyrie, Glória e oração do dia, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Sua finalidade é fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembléia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”. (IGMR •, n. 46)
Por que ritos iniciais? Formar uma comunidade celebrante
Quem celebra é a Igreja. A comunidade dos batizados deixa suas ca¬sas para celebrar Cristo na sua vida e sua vida em Cristo. Reunir-se é tornar visível a Igreja, visibilizar a comunhão profunda que nos une para além das nossas diferenças: "A multidão dos crentes tinha um só coração e uma só alma" (At 5,32). Esta é a meta dos ritos iniciais. "Fazer com que os fiéis reunidos constituam uma comunidade celebrante, disponham-se a ouvir atentamente a Palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia".
A partir desta finalidade é que devemos compreender os ritos iniciais, e "segun¬do as circunstâncias, desenvolver ou sublinhar mais um ou outro elemento, evitando acentuar tudo ao mesmo tempo" (IGMR, n. 234). Os ritos iniciais terão feições diversas de acordo com a realidade.
COMENTÁRIO INICIAL
Este tem por fim introduzir os fiéis no mistério celebrado. Sua posição correta seria após a saudação do padre, pois ao nos encontrarmos com uma pessoa, primeiro a saudamos para depois iniciarmos qualquer atividade com ela. Deve ser breve e conter aquilo que será celebrado. Não precisa divulgar o obvio.
CANTO DE ABERTURA OU ENTRADA
“Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com o diácono e os ministros, começa o canto de entrada. A finalidade desse canto é abrir a celebração, promover a união da assembléia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdote e dos ministros”. (IGMR, n.47)
Cantar juntos o mistério celebrado une as vozes e os corações. Valorizar a procissão com a entrada dos ministros diversos; levar cruz, velas, e, conforme o tempo, círio, incenso, etc. “Em certos povos, o canto é instintivamente acompanhado do bater de mãos, de movimentos ritmados e de passos de dança dos participantes” (A Liturgia Romana e a inculturação , 1994, n. 42).
“Como os demais elementos que compõem os ritos iniciais de uma celebração, tem como principal finalidade constituir e congregar a assembléia, introduzindo-a no mistério que será celebrado. Se este canto estiver devidamente integrado ao momento ritual (dos ritos inicias), em consonância com o tempo do ano litúrgico, com o tipo de celebração, com as características da assembléia..., ele cumprirá a sua função de reunir os irmãos e irmãs no mesmo sentir. A assembléia assim reunida é sinal sacramental da Igreja, Corpo Místico de Cristo, e estará preparada para escutar a Palavra e para participar na mesa eucarística. O canto de abertura é, portanto, o prelúdio da ação litúrgica”. (FONSECA, Frei Joaquim. Cantando a missa e o ofício divino. Paulus: São Paulo, 2004)
Durante o canto de entrada percebemos alguns elementos que compõem o início da missa:
a) O canto
Através da música participamos da missa cantando. A música não é simplesmente acompanhamento ou trilha musical da celebração: a música é também nossa forma de louvarmos a Deus. Daí a importância da participação de toda assembléia durante os cantos. Existem dois tipos de cantos na celebração: os que acompanham um rito (Entrada, Ofertório, Comunhão, etc) e aqueles que constituem um rito (Ato Penitencial, Glória, Agnus Dei, etc).
b) A procissão
“O povo de Deus é um povo peregrino, que caminha rumo ao coração do Pai. Todas as procissões têm esse sentido: caminho a se percorrer e objetivo a que se quer chegar. A nova Instrução Geral parece exigir que nas missas com povo se realize normalmente a solene procissão de entrada com os diversos ministros previstos: Reunido o povo, o Sacerdote e os ministros, revestidos das vestes sagradas, dirigem-se ao altar na seguinte ordem:
a) O turiferário com o turíbulo aceso, quando se usa incenso;
b) Os ministros que portam as velas acesas e, entre eles, o acólito ou outro ministro com a cruz;
c) Os acólitos e os outros ministros;
d) O leitor, que pode conduzir um pouco elevado o Evangeliário, não, porém, o lecionário;
e) O Sacerdote que vai celebrar a Missa.
“Quando se usa incenso, antes de iniciar a procissão, o Sacerdote põe incenso no turíbulo, abençoando-o com o sinal-da-cruz, sem nada dizer”. (IGMR, 2004, n. 120 citado In Beckhäuser, Frei Alberto, Novas mudanças na Missa, Vozes, Petrópolis, RJ, 2002)
“Onde for possível, é conveniente valorizar uma verdadeira procissão de entrada do sacerdote e dos demais ministros, que prestarão um serviço específico na celebração: acólitos, ministros extraordinários da Comunhão, leitores e outros ministros, como por exemplo, os que vão ler as intenções da Oração dos fies etc. Estes ministros, oportunamente, tomarão lugar no presbitério. Há possibilidade de uma grande variedade nesta procissão. O MR prevê se oportuno, o uso de cruz processional acompanhada de velas acesas, turíbulo já aceso, livro dos Evangelhos. Outras circunstâncias poderão sugerir novos elementos como círio pascal, água benta, bandeira do padroeiro numa festa de santo, ramos, participação de representantes da comunidade (adultos jovens e crianças).” (CNBB 43 , n. 239 -240).
c) O beijo no altar
Durante a missa, o pão e o vinho são consagrados no altar, ou seja, é no altar que ocorre o mistério eucarístico. O presidente da celebração ao chegar beija o altar em sinal de carinho e reverência por tão sublime lugar.
Carrega também o simbolismo do beijo que a esposa (Igreja) dá no Esposo (Cristo), pois ali se dará a maior prova de amor: uma entrega total e voluntaria pela salvação de todos.
A SAUDAÇÃO
a) Sinal da Cruz
“Executado o canto de entrada, o sacerdote, de pé junto à cadeira, junto com toda a assembléia faz o sinal da cruz; a seguir, pela saudação, expressa à comunidade reunida à presença do Senhor. Esta saudação e a resposta do povo exprimem o mistério da Igreja reunida”. “Feita à saudação do povo, o sacerdote, ou diácono, ou um ministro leigo, pode com brevíssimas palavras introduzir os fiéis na Missa do dia” . (IGMR, n. 49)
O presidente da celebração e a assembléia recordam-se por que estão celebrando a missa. É, sobretudo pela graça de Deus, em resposta ao seu amor. Nenhum motivo particular deve sobrepor-se à gratuidade. Pelo sinal da cruz nos lembramos que pela cruz de Cristo nos aproximamos da Santíssima Trindade.
O sinal-da-cruz no início da Liturgia é (como tantas outras) também uma ação ritual litúrgica e, por isso mesmo, carregada de profundo sentido humano, teológico e espiritual. Antes de tudo é preciso ver essa ação litúrgica como uma ação integrada no contexto dos ritos iniciais da celebração.
Como se vê, a finalidade dos ritos iniciais é, em outras palavras, fazer com que os fiéis, sentindo-se assembléia litúrgica, façam a experiência de estarem em comunhão de fé e amor (com Deus: Trindade santa e entre si) e, assim, se sintam bem dispostos a ouvir “atentamente” a Palavra e celebrar “dignamente” a Eucaristia.
É a primeira ação litúrgica, pela qual se constitui “oficialmente” a assembléia. É como se a pessoa que preside dissesse assim: “Em nome da Trindade santa (Pai, e Filho e Espírito Santo) declaro (declaramos) constituída esta assembléia litúrgica”. E toda a assembléia expressa o seu assentimento, dizendo: “Amém” (assim seja, aprovado!). Assim, junto com a saudação presidencial subseqüente e a resposta do povo, se expressa (como diz a Instrução geral) “o mistério da Igreja reunida” (IGMR, n. 50). No fundo, o que se quer dizer é isso: “A partir desse instante, está constituída a assembléia litúrgica: Quem nos reúne em comunhão de fé e amor para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia é o Deus comunhão (Pai, e Filho e Espírito Santo), e mais ninguém. Neste Deus comunhão (por pura graça d’Ele) todos nós estamos em comunhão, formando um só corpo místico para celebrar a divina Liturgia, na qual somos ‘tocados’ pelo seu amor misericordioso em todos os âmbitos do nosso ser”.
Por isso, proclamando que quem nos reúne é a Trindade santa, nós tocamos o nosso corpo em forma de cruz. Esse “toque” tem um sentido simbólico e espiritual profundo. Por ele, no fundo, testemunhamos que, pelo mistério pascal (cruz e ressurreição) fomos (e somos!) “tocados” pelo amor da Trindade.
“Já no primeiro século, os cristãos se marcavam com a cruz. Ao fazê-lo, é como se talhassem ou gravassem em todo o seu ser o amor com que Jesus Cristo nos amou até o fim, morrendo por nós na cruz. (Ao traçar sobre nós a cruz) nós a burilamos em toda a amplitude do corpo: sobre a fronte (os pensamentos), no baixo ventre (a vitalidade, a sexualidade), sobre o ombro esquerdo (o inconsciente, o feminino, o coração), sobre o ombro direito (o consciente, o masculino, o agir). Ao fazer o sinal-da-cruz, asseguramos e antecipamos aquilo que celebramos na Eucaristia: que seremos tocados pelo amor de Cristo e que nada em nós fica excluído deste amor. Na Eucaristia, Jesus Cristo imprime o seu amor salvador e libertador em todos os âmbitos de nosso corpo e de nossa alma, para que tudo em nós espelhe sua luz e seu amor” (La Eucaristía como obra de teatro, como “teatro-visión” e “teatro-juego”. In: Cuadernos Monásticos n. 147, 2003, p. 439-440).

Portanto, fica claro que o sinal-da-cruz no início da Liturgia não tem nada a ver com “invocação” à Santíssima Trindade, como muitos pensam. Não tem sentido chamar esta ação litúrgica de “invocação” à Trindade. Pois é Ela que, por gratuita iniciativa sua já nos reúne em assembléia para, em comunhão de fé e amor, ouvirmos “atentamente” a Palavra e celebrarmos “dignamente” a Eucaristia... Simplesmente celebramos o fato de ser Ela que nos reúne para sermos “tocados” pela presença viva do Senhor, na Palavra e no Sacramento.

Saudação ritual
Retirada na sua maioria dos cumprimentos de Paulo, o presidente da celebração e a assembléia se saúdam. O encontro eucarístico é movido unicamente pelo amor de Deus, mas também é encontro com os irmãos.
Após o sinal da cruz e a saudação ritual (falada ou cantada), o missal prevê uma palavra espontânea de quem preside ou de outro ministro. Pode ser bom saudar os visitantes ou pessoas específicas em ocasiões especiais (pais, mães dos batizandos etc.).
“A saudação, no começo da celebração é muito antiga. Pelo menos, desde o tempo de Santo Agostinho, já se tem notícia dela. "Entrei... Saudei o povo e as sagradas escrituras foram lidas" (A Cidade de Deus , 22,8). Ela indica que a convocação da Assembléia é um gesto de fé e que vai se realizar um acontecimento em que Cristo Jesus e seu Espírito serão protagonistas.
Como em toda a celebração, também na saudação inicial, o presidente está agindo "in Persona Christi". Por isso a fórmula deverá ser sempre: "esteja convosco" e nunca "conosco". Talvez este pensamento fique mais claro, se considerarmos a narração da Ceia. Também lá, o presidente diz: "Isto é o meu corpo" e não: "Isto é o corpo de Cristo". Quem age e fala, através do sacerdote, é o próprio Cristo. Daí, o "isto é meu corpo".
O Missal Romano apresenta três fórmulas de saudação para o sacerdote e uma específica para o bispo. A edição brasileira acrescenta, além das previstas pela edição latina, mais quatro.
Os outros livros litúrgicos dão grande margem de flexibilidade à fórmula da saudação inicial.
Acolhida
Na verdade, precisamos rever a acolhida, investir em equipes e no jeito de acolher as pessoas e no modo de constituir a assembléia para a celebração.
É Deus mesmo que nos reúne e acolhe em seu amor pelos gestos, pelo olhar, pela saudação e pela acolhida dos ministros e da equipe de acolhida. Através deles Deus quer manifestar a sua ternura, o seu carinho e a sua alegria de Pai que acolhe seus filhos e suas filhas.
Nós somos o povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Em cada rosto e olhar é Cristo que nos acolhe. Em cada abraço e aperto de mão somos recebidos pelo Senhor. As pessoas, pouco a pouco, vão chegando para a celebração e a presença e a ação do Espírito vão juntando os corações e criando laços que nos entrelaçam com Ele, com os irmãos e com o Pai. Por isso, em cada celebração dizemos: Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo. O Cristo ressuscitado nos acolhe e nos comunica a sua força pascal através da acolhida dos irmãos. Nós comunicamos a vida do Ressuscitado às pessoas no gesto de acolhimento.
Os ritos iniciais têm como objetivo a acolhida humana, simples e fraterna. A acolhida é o começo da celebração e deve ajudar a criar o clima de oração. Deve motivar a abertura do coração para o encontro Deus. A acolhida reúne as pessoas no carinho de Deus e cria na força do Espírito Santo a assembléia litúrgica.
A acolhida bem feita e a celebração participada nos ajudam a vivenciar o que está escrito na carta aos Efésios: “Vivendo segundo a Verdade, no amor, cresceremos sob todos os aspectos em relação a Cristo, que é a cabeça. É dele que o corpo todo recebe coesão e harmonia, mediante toda sorte de articulações e, assim, realiza o seu crescimento, construindo-se no amor, graças à atuação devida a cada membro” (Ef 4,15-16).
ATO PENITENCIAL
“... o sacerdote convida para o ato penitencial, que, após breve pausa de silêncio, é realizado por toda a assembléia através de uma fórmula de confissão geral, e concluído pela absolvição do sacerdote, absolvição que, contudo, não possui a eficácia do sacramento da penitência. Aos domingos, particularmente, no tempo pascal, em lugar do ato penitencial de costume, pode-se fazer por vezes, a bênção e aspersão da água em recordação do batismo”. (IGMR, n. 51)
Após saudar a assembléia presente, o sacerdote a convida para num momento de silêncio, reconhecer-se pecadora e necessitada da misericórdia de Deus. Após o reconhecimento da necessidade da misericórdia divina, o povo a pede em forma de ato de contrição: Confesso a Deus Todo-Poderoso... Em forma de diálogo por versículos bíblicos: Tende compaixão de nós... Ou em forma de ladainha: Senhor, que viestes salvar... Após, segue-se a absolvição do sacerdote. Tal ato pode ser substituído pela aspersão da água, que nos convida a rememorar-nos o nosso compromisso assumido pelo batismo e através do simbolismo da água pedir para sermos purificados.
Senhor, tende piedade de nós
“Depois do ato penitencial inicia-se sempre o Senhor, tende piedade, a não ser que já tenha sido rezado no próprio ato penitencial. Tratando-se de um canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é executado normalmente por todos...” (IGMR, n. 52)
“O ‘Senhor tende piedade de nós’ ou ‘Kyrie, eleison’ pertence ao bloco de cantos que constituem o próprio rito da celebração eucarística, ou seja, o que costumamos chamar de ‘ordinário da missa’... Embora consciente da dificuldade de se precisar a origem da invocação ‘Senhor, tende piedade de nós’ e sua inclusão no rito da missa, testemunhos antigos nos revelam que os kyrie estavam relacionados com a resposta da oração dos fiéis, na liturgia da palavra. A cada invocação o povo respondia com o ‘Kyrie, eleison’. Mais tarde, este canto foi incluído nos ritos iniciais da missa após o ato penitencial ou como uma variante deste. A IGMR nos recomenda que este canto seja executado por toda a assembléia. Esta orientação certamente vem corrigir os desvios históricos, pelos quais o ‘kyrie, eleison’ se transformou em uma peça musical para ser executada por musicistas especializados de coros e orquestras. Quanto à assembléia, esta praticamente se limitava à escuta.
O Kyrie é, portanto, uma aclamação suplicante a Cristo Senhor e não uma forma de invocação trinitária como foi equivocamente interpretada por muito tempo. É o canto da assembléia reunida que invoca e se reconhece a infinita misericórdia do Senhor. Aliás, ‘kyrios’(Senhor), foi o nome mais comum dado a Cristo ressuscitado pelos primeiros cristãos.
Quanto à execução, via de regra, todo e qualquer canto que pressupõe um solista, o acompanhamento instrumental deverá ser sóbrio e discreto, ou seja, o suficiente para que toda a assembléia possa escutar as palavras do texto. Quando a assembléia intervier, os instrumentos poderão tocar com um pouco mais de vigor. (FONSECA, Frei Joaquim. “Cantando a missa e o ofício divino”. Paulus: São Paulo, 2004 p. 17-18).

O rito penitencial confessa o Cristo que salva. É mais desenvolvido na quaresma enquanto caminho de conversão. No tempo pascal, preferir as invocações ou a bênção - aspersão da água benta (com muita água).
“Por mais que seja importante, o ato penitencial não é absolutamente necessário na estrutura da missa. Pode ser omitido ou substituído por outros ritos, como por exemplo, no Domingo de Ramos, na Quarta Feira de Cinzas, nas ocasiões em que se unem as horas do Ofício com a Missa. Segundo o Missal Romano, a bênção e a aspersão da água não é ato penitencial, mas seu substituto (Missal Romano p. 1001). No entanto, na opinião de muitos liturgistas, "constitui, sem dúvida, um dos mais belos e mais autênticos atos penitenciais. Ela é ao mesmo tempo, uma recordação do batismo e um ato penitencial, uma ablução e uma purificação, um reconforto e um ato de salvação... Infelizmente o texto e o cântico só se encontram num apêndice do Missal." (SCHNITZLER, Theodor. Missa, mensagem e vida, p. 91).
HINO DE LOUVOR
“O Glória é um hino antiqüíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro. O texto deste hino não pode ser substituído por outro(...) é cantado por toda a assembléia(...) se não for cantado, deve ser recitado por todos juntos. É cantado ou recitado aos domingos, exceto no tempo do Advento e da Quaresma, nas solenidades e festas e ainda em celebrações especiais mais solenes”. (IGMR, n.53)
“O Glória é um hino antiqüíssimo e venerável, pelo qual a Igreja glorifica a Deus Pai e ao Cordeiro. Não constitui uma aclamação trinitária”. (CNBB, 43, n. 257)
Espécie de salmo composto pela Igreja, o glória é uma mistura de louvor e súplica, em que a assembléia congregada no Espírito Santo, dirige-se ao Pai e ao Cordeiro. É proclamado nos domingos - exceto os do tempo da quaresma e do advento - e em celebrações especiais, de caráter mais solene.
“O ‘Glória’ é um hino que remonta aos primeiros séculos da era cristã. Na Instrução Geral do Missal Romano, lemos que o ‘Glória’ é um ‘hino antiqüíssimo e venerável, pelo qual a Igreja congregada no Espírito Santo glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro... (n. 53).
Esta definição nos deixa claro que o ‘Glória’ é um hino doxológico (de louvor/glorificação) que canta a glória e Deus e do Filho. Porém, o Filho se mantém no centro do louvor, da aclamação e da súplica. Movida pela ação do Espírito Santo, a assembléia entoa esse hino, que tem sua origem naquele canto dos anjos que ressoou pela primeira vez nos ouvidos dos pastores de Belém, na noite do nascimento de Jesus (cf. Lc 2,4).
Na sua origem, o ‘Glória’ era entoado durante o ofício da manhã. Só bem mais tarde – por volta do século IV – é que aparece prescrito na liturgia eucarística do Natal podendo ser entoado apenas pelo bispo. Esse costume se prolongou por muito tempo. Porém, no final do século XI já há notícias do uso do ‘Glória’ em todas as festas e domingos, exceto na Quaresma. Então os presbíteros já podiam entoá-lo.
O ‘Glória’ pode ser dividido em três partes:
a) O canto dos anjos na noite do nascimento de Cristo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados’;
b) Os louvores a Deus Pai: ‘Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, nós vos glorificamos, nós vos damos graças pro vossa imensa glória’;
c) Os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo: ‘Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica. Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo Jesus Cristo’.
O ‘Glória’ termina com um final majestoso, incluindo o Espírito Santo. É importante lembrar que esta inclusão não constitui, em primeira instância, um louvor explícito a terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo aparece relacionado com o Filho, pois é neste que se concentram os louvores e as súplicas. Em outras palavras: o Cristo se mantém no centro de todo o hino. Ele é o Kyrios, o Senhor que desde todos os tempos habita no seio da Trindade.
Estas dicas certamente nos ajudarão a discernir na escolha do ‘hino de louvor’ mais adequado para as celebrações eucarísticas. Sabemos que em muitas de nossas igrejas há o costume de executar, no lugar do verdadeiro ‘Glória’ pequenas aclamações trinitárias, ou seja, simples aclamações dirigidas ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Pudemos ver que o ‘Glória’ é bem mais do que isso: nele está contido o louvor, a aclamação e a súplica. E mais: a pessoa de Jesus Cristo aparece no centro desta grande doxologia... Deixamos aqui um apelo: que tal, aos poucos, irmos abandonando aqueles “glorinhas” que pouco têm a ver com o “Glória” da mais genuína tradição da Igreja?”(Frei Joaquim Fonseca, “Cantando a missa e o ofício divino” Paulus 2004 p. 19-29).
ORAÇÃO DE COLETA
Encerra o rito de entrada e introduz a assembléia na celebração do dia. Os ritos iniciais encerram-se sempre com a oração do dia, elemento mais antigo destes ritos.
“A seguir, o sacerdote convida o povo a rezar; todos se conservam em silêncio com o sacerdote por alguns instantes, tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente os seus pedidos, depois o sacerdote diz à oração que se costuma chamar “coleta”, pela qual se exprime a índole da celebração. Conforme antiga tradição da Igreja, a oração costuma ser dirigida a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo e por uma conclusão trinitária, isto é, com uma conclusão mais longa... (IGMR, 2004, n. 54).
O povo, unindo-se a suplica, faz sua a oração pela aclamação Amém. Na Missa sempre se diz uma única oração do dia. A assembléia dá o seu assentimento com o ‘Amém’ final”
“Se os ritos anteriores tiveram bastante dinamismo, é fácil para o sacerdote motivar com poucas palavras o povo para uma oração silenciosa de alguns instantes. Será um verdadeiro momento de recolhimento profundo, onde se experimentará a presença de Deus que fala nos corações.
Estrutura da Oração Coleta:
A oração se compõe de quatro elementos. O terceiro elemento, por sua vez, compõe-se de outros três.
1) O convite à oração: é uma herança do judaísmo . Os grandes momentos de oração comum da assembléia litúrgica eram precedidos de um convite. Este convite é mais que um sinal. É um apelo que contém em si o que vai acontecer. Realiza o que diz, ou seja, coloca em oração.
2) O silêncio: Não é um detalhe facultativo. Está prescrito na IGMR 54. Tem duas funções. Permite aos fiéis tomarem consciência de que estão na presença de Deus e dá tempo para que cada um exprima para si mesmo o sentido da festa que se está celebrando.
3) O corpo da oração: Divide-se em três elementos. a) A invocação,- Ó Deus - quase sempre acompanhada de um considerando (que fizestes resplandecer..., que reacendeis em nós...). Na liturgia romana a oração é sempre dirigida ao Pai. Também nas festas dos santos. Esta prescrição feita pelo Concílio de Hipona (393) se manteve em vigor até o século X, quando a liturgia galicana se impôs em Roma. A partir desta época, começam a ser encontradas orações dirigidas a Cristo b) O pedido, motivo fundamental da súplica. Flui do conteúdo da festa, ou do tempo litúrgico. c) A conclusão mostra que a oração é feita por Cristo no Espírito Santo.
4) O Amém: Com o amém, o povo se associa à súplica e se apropria da oração (IGMR 54). É como se dissesse ao que preside: o que acabas de dizer a Deus, como nosso intercessor e representante, é também nossa prece.

Sugestões práticas:
Desde o momento em que o povo está reunido até o amém final, todos os ritos concorrem, cada um segundo sua tônica diferente, para fazer a assembléia do Senhor, ou seja:
- Para nos reconhecer como irmãos, membros do Corpo de Cristo;
- Para manifestar que somos um só povo, um só corpo;
- Um corpo estruturado, organizado, ministérios;
- Para nos situar em Jesus Cristo, em presença de um Pai que nos salva.
 Introduzir a missa do dia “colorir” o desenrolar do rito com o mistério do dia; se possível o canto, a acolhida, o ato penitencial e a oração de conclusão. A decoração ou ambientação do espaço litúrgico é também importante.
 Cuidado para a abertura não se constituir num “resumo” da celebração. A abertura constitui o tempo de despertar, da sensibilização, tempo de convocação, pode ser também tempo de provocação, não é antecipação da Palavra.
 Cuidado! A multiplicação de ritos introdutórios pode dispersar ao invés de congregar - a acumulação, multiplicidade de ritos em tão pouco tempo.
 Os tempos penitenciais como a Quaresma e outros, quando não se canta o Glória, serão propícios para um rito penitencial mais desenvolvido, de acordo com a pedagogia do Ano Litúrgico, permitindo assim maior variedade. (CNBB, 43 n. 253).
 Não acentuar demais o aspecto penitencial na Celebração eucarística, sobretudo com o nosso povo já tão inclinado a uma religiosidade penitencial. A reconciliação e a penitência devem perpassar toda a ação pastoral da Igreja. E ela tem o seu desabrochar na Celebração do Sacramento da Reconciliação ou da Penitência, que naturalmente precede a Celebração da Eucaristia.
 Simplificação, flexibilidade, privilegiar um dos elementos, respeitando o espírito do missal e não apenas a letra, simplificá-lo em vista de uma maior eficácia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário